A ampliação das tarifas de Donald Trump entrou em vigor nesta terça-feira (09), com a China no centro das atenções devido à sobretaxa expressiva de 104% imposta sobre seus produtos importados. A medida, que já era aguardada após o anúncio do ex-presidente americano, reacendeu o temor de uma escalada na guerra comercial e gerou ondas de choque nos mercados financeiros globais, com reflexos imediatos sentidos no Brasil.
A volta do dólar à casa dos R$ 6 é um dos primeiros sinais de aversão ao risco decorrentes do tarifaço de Trump à China. Para o Brasil, um país emergente e exportador de commodities, esse cenário é uma péssima notícia, conforme análise da fonte. Os canais de contaminação são diversos: desde a queda no crescimento global e no PIB da China (nosso principal parceiro comercial) até o impacto direto no preço de commodities como minério de ferro, petróleo, soja e milho.
Não apenas a China é alvo das novas taxas. A União Europeia também passa a lidar com tarifas de 20%, enquanto o Sudeste Asiático pode enfrentar alíquotas de até 50% por parte dos Estados Unidos. No entanto, o foco principal recai sobre a sobretaxa de 104%, um aumento significativo que marca uma nova fase na disputa comercial entre as duas maiores economias do mundo.
A reação da China não tardou. Em um movimento simbólico, Pequim recorreu à OMC (Organização Mundial do Comércio), mesmo diante da conhecida paralisia do seu órgão de apelação. Paralelamente, a China busca estreitar laços com seus vizinhos asiáticos, visando aprofundar a integração da cadeia produtiva, e implementou a desvalorização do Yuan, tornando suas exportações relativamente mais baratas em uma tentativa de mitigar o impacto das tarifas americanas.
As projeções sobre o impacto do tarifaço de Trump à China são preocupantes. A Capital Economics estima que, se mantida, essa tarifa poderia reduzir pela metade as exportações chinesas para os Estados Unidos nos próximos anos, subtraindo de 1% a 1,5% do PIB da China. Uma previsão ainda mais pessimista do Goldman Sachs aponta para uma possível queda pela metade no crescimento chinês, que tinha uma meta estabelecida de 5% para este ano.
Para o Brasil, as consequências podem ser sentidas em diversas frentes. A queda no preço de commodities afeta diretamente a receita das exportações brasileiras. Além disso, a instabilidade no comércio mundial e a retração do comércio exterior representam um cenário desfavorável. A alta do dólar, impulsionada pela aversão ao risco gerada pelo tarifaço de Trump, pressiona a inflação e pode levar à manutenção de juros altos por mais tempo, impactando a atividade econômica.
Os mercados financeiros globais já demonstram nervosismo. As bolsas na Ásia fecharam no terreno negativo, assim como as negociações em andamento na Europa, com quedas significativas em Paris, Londres, Frankfurt e Madrid. Nos Estados Unidos, as bolsas também encerraram o dia anterior em baixa, e os futuros já indicavam mais um dia de instabilidade em Wall Street. No Brasil, o Ibovespa também registrou queda, e o dólar voltou a se aproximar da marca dos R$ 6.
Houve um breve momento de otimismo, após declarações do secretário de Tesouro americano, Scott Pen, sobre a disposição de Trump em negociar e a priorização de países como Coreia do Sul e Japão. O próprio Trump chegou a acenar para Xi Jinping, expressando admiração. No entanto, essa euforia durou pouco, sendo dissipada com o anúncio e a entrada em vigor da sobretaxa de 104% sobre os produtos chineses.
A escalada do dólar frente ao real desde outubro de 2024, culminando no pico atual próximo a R$ 6, ilustra a sensibilidade da economia brasileira aos eventos internacionais e, em particular, às políticas comerciais dos Estados Unidos. O cenário é de incerteza e volatilidade, com investidores e líderes mundiais tentando digerir os impactos de mais um capítulo da intensa guerra comercial global.

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