Alta na renda, no consumo e nas dívidas

Comércio

BRASÍLIA, RIO, SÃO PAULO, RECIFE, PORTO ALEGRE e BELÉM – Sete famílias, sete realidades diferentes. Durante todo o ano de 2013, O GLOBO acompanhou famílias de Norte ao Sul do país, com rendas de pouco acima de mil reais a mais de R$ 60 mil e viu como a economia brasileira se comportou dentro dos lares brasileiros. Em uma série de reportagens que começa hoje, a vida dessas famílias e da história econômica do Brasil neste ano será apresentada até quarta-feira. Neste primeiro capítulo desta novela real, duas situações marcaram o ano: consumo e endividamento.

Os juros mais altos (a taxa básica subiu de 7,25% ao ano em janeiro para 10% em novembro), afetaram mais as dívidas, numa sociedade em que o hábito de poupar perde para a demanda represada. Aos que tinham alguma folga no orçamento, os investimentos em Bolsa, em dólar e em juros impuseram perdas diante do cenário externo instável. A poupança, apesar de ter perdido para inflação em vários meses do ano, ainda é o porto seguro.

Por outro lado, o orçamento das famílias brasileiras ficou mais gordo em 2013: os ganhos, por reajuste salarial, troca de emprego ou atividades extras, variaram de 5,5% a 17,7%, provocados por um mercado de trabalho ainda aquecido. A taxa de desemprego de 5,2% em outubro foi a mais baixa para o mês em 11 anos, mesmo com a eco

Administrar as dívidas para concretizar o sonho da família de construir e mobiliar o sobrado em Brasília foi a rotina em 2013 dos servidores públicos Laurício Cruz e Andreza Monteiro, que têm dois filhos, Matheus e Felipe, de 20 e 23 anos. Laurício e Andreza, que somam ganho mensal de R$ 18 mil, começaram o ano com uma dívida de R$ 45 mil, somente no cartão de crédito. Até março, com o dinheiro de décimo terceiro salário, férias e horas extras, eles conseguiram reduzir esse montante para R$ 18 mil. Além dos gastos no cartão, por mês, eles precisam pagar R$ 5 mil de três linhas de empréstimos, com taxas entre 1,29% e 2,8% ao mês, também para a construção do sobrado.

– Dentro do que planejamos, as contas não saíram do controle. Agora, vamos economizar, poupar e fazer duas viagens – afirmou Laurício que pretende ir a Porto Seguro. A última viagem da família foi em 2010 para Fortaleza.

Com uma renda acima de R$ 60 mil, a empresária Flávia Ritto, sócia da holding de empresas Nova Rio, de terceirização de serviços de limpeza, segurança e outros, não se endividou, mas sofreu perdas diante do cenário de incerteza no exterior, que fez a Bolsa cair e dólar e juros subirem:

– Acumulei seis meses de perdas no fundo multimercado (que reúne investimentos nos três tipos de aplicação). Resolvemos, então, comprar um apartamento em Miami com o dinheiro. Mantivemos a poupança com o aluguel de um imóvel.

As famílias aprenderam estratégias para fugir dos juros altos, que ultrapassam 100% ao ano em algumas linhas de crédito. Usaram o parcelamento sem juros nos cartões de crédito e empréstimos com os amigos e no consignado. Até agiota entrou na formação da renda para poder quitar as despesas fixas.

Os sonhos do ano foram concentrados no consumo. O carro e a TV mais moderna lideraram a lista de desejos. O aumento da renda permitiu que a família da assistente administrativa Vanessa Lima e do metalúrgico Marcos Roberto Lima, de São Paulo, trocassem o Escort vermelho 1995 por um Prisma preto 2010. A mudança incluiu novo gasto de R$ 700 ao mês com a parcela, além da gasolina, IPVA e seguro. O valor da prestação do carro supera o das parcelas do apartamento, de R$ 600. A troca da TV também trouxe, além das dez prestações de R$ 179, plano de TV a cabo melhor e dos serviços do NetFlix e do wifi.

– Já que é pra trocar, escolhemos a melhor: 40 polegadas, tela de LED, 3D e wi-fi – diz Vanessa.

Em Belém, a dívida para pagar o carro popular comprado no início do ano quase dividiu a família. Os servidores públicos estaduais Jaffre Moraes e Edinete Veras, de Belém, têm uma renda de R$ 4,7 mil. Esse valor garantia tudo com certa folga até ano passado. Mas aí a família comprou um um carro popular, zero quilômetro. Então muita coisa mudou. Principalmente no início deste ano, quando o primeiro IPVA foi pago, ceifando R$ 1.000. Há ainda as parcelas de R$ 930, que serão pagas por 60 meses. Assim, nenhuma nova prestação entrou no orçamento.

– É um conforto e claro que gostaríamos de ter um carro melhor, mais moderno, mas é o que podemos pagar agora. E se ficar muito difícil, não vou forçar e devolvo mesmo. A prioridade é o apartamento, com parcelas de R$ 996 por mês, mas decrescentes. Vai chegar uma hora em que ficará menor. Faltam 17 de 20 anos de prestações – diz Jaffre.

A dívida e o orçamento mais apertado mexeu no relacionamento do casal.

– Passamos por algumas instabilidades de casal. Sim, já chegamos a cogitar a separação, mas continuamos juntos, unidos, cuidando um do outro e principalmente das crianças – reconhece Edinete.

Na casa da diarista Solange Moraes, em Saracuruna, bairro de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, uma dívida foi contraída, mas os juros praticados no mercado não entraram na conta. O Chevette 1984 precisando de reparos e parado foi trocado pelo Gol 1992, andando. O carro custou R$ 5.800. O Chevette abateu R$ 1.800 da dívida:

– Peguei R$ 2 mil emprestados de um ex-patrão que virou meu amigo. Vou pagar em um ano. E assumi uma prestação mensal de R$ 500.

A família de Jerri Adriani Leite e Kátia Duarte, que mora no subúrbio de Porto Alegre, também se endividou. Com a festa de 15 anos da filha Kethelyn. Eles gastaram R$ 12 mil, cinco vezes a renda do casal. Além da poupança feita em anos anteriores, assumiram uma dívida de R$ 7 mil.

– Passamos mais de um ano guardando dinheiro, fizemos dois empréstimos para pagar uma parte que faltava, mas no fim deu tudo certo e demos esse presente de aniversário à nossa filha. Fomos muito criticados por alguns parentes e amigos, mas realizar o sonho de um filho é a mesma coisa que realizar um sonho meu ou do Jerri Adriani. Comecei a trabalhar quando tinha menos que a idade dela e nunca tive regalia alguma – diz a mãe.

Não foi o consumo que endividou Ivanilda Maria da Silva, agricultora que vive em São Caetano, a 153 quilômetros de Recife. Foi a seca. Na pior estiagem em 40 anos do semiárido pernambucano, ela se dedicou a garantir a vida dos caprinos e bovinos que ajudam no sustento família. Teve que se desfazer de quatro das sete cabeças de gado. Vendeu “a preço de banana”. Resolveu então garantir a sobrevivência dos que ficaram no curral. Gastou com ração, caminhão pipa e até aluguel de terreno para garantir pasto. A família teve que recorrer a um empréstimo de um agiota e a dívida começou a crescer. Foram R$ 1.700 a 10% ao mês. Quando viu que não ia ter como quitar o débito, Ivanilda convenceu o marido, João Torres da Silva, que é aposentado rural, a contrair R$1.990 no consignado e pagou ao agiota. Agora, deve ao banco, mas não se queixa.

– O dinheiro já vem descontado e penso que o juro é menor – diz ela.

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