Estudos sugerem que há grandes benefícios para a saúde quando uma pessoa passa a maior parte do dia de pé ao invés de permanecer sentada. O médico e jornalista britânico Michael Mosley explica as diferenças.
Adivinhe quantas horas por dia você passa sentado? Uma pesquisa recente descobriu que muitos passam até 12 horas por dia sentados, em frente ao computador ou à televisão. Se calcularmos também as sete horas de sono, o total de horas de sedentarismo por dia chega a 19.
Todas estas horas sentados claramente fazem mal para a saúde e alguns estudos sugerem que aqueles que passam o dia todo sentados vivem cerca de dois anos a menos do que os mais ativos. E a maioria de nós faz isso: sentamos no trabalho, no carro e em casa, nos movendo apenas para trocar de um assento para outro.
Mesmo os que se exercitam regularmente podem não estar fazendo o bastante. Existem provas de que o exercício não vai desfazer o dano das longas horas sentados. Nossa tecnologia nos transformou nos humanos mais sedentários em toda a história.
Por que permanecer sentado é tão prejudicial? Primeiro: muda a forma com que nossos corpos lidam com o açúcar. Quando você come, seu corpo quebra a comida, transformando-a em glicose, que então é transportada no sangue para outras células.
A glicose é um combustível essencial, mas altos níveis dela durante longos períodos podem aumentar o risco de diabetes e problemas de coração. Seu pâncreas produz o hormônio insulina para ajudar a manter os níveis de glicose normais, mas a eficiência desta operação depende do seu nível de atividade física.
Voluntários de escritório
Queríamos verificar o que aconteceria se pegássemos um grupo de pessoas, que normalmente passam o dia sentadas em um escritório, e pedíssemos a elas para passar algumas horas do dia em pé.
Ficar em pé enquanto trabalha pode parecer estranho, mas não é novo. Winston Churchill, Ernest Hemingway e Benjamin Franklin cultivavam o hábito.
Com a ajuda do médico John Buckley e uma equipe de pesquisadores da Universidade de Chester, realizamos uma experiência simples. Pedimos a dez pessoas que trabalham em uma imobiliária a passar pelo menos três horas por dia em pé, durante uma semana.
Os voluntários tiveram reações diferentes à proposta.
‘Será diferente, mas estou ansiosa…’, disse uma delas.
‘Acho que meus pés vão doer, tenho que usar sapatos confortáveis’, afirmou outra.
Pedimos aos voluntários que usassem um acelerômetro, um monitor de movimentos. Eles também usaram monitores de batimentos cardíacos e de níveis de glicose, dia e noite.
A prova de que ficar de pé é bom para a saúde nos leva de volta a década de 1950, quando um estudo foi feito com cobradores de ônibus que ficavam de pé e motoristas de ônibus, que permaneciam sentados.
O estudo, publicado na revista especializada Lancet, mostrou que os cobradores tinham metade do risco de de desenvolver doenças do coração em comparação aos motoristas de ônibus.
Desde então, permanecer sentado não foi ligado apenas a problemas para controlar os níveis de glicose no sangue, mas também a uma grande redução da atividade de uma enzima chamada lipoproteína lipase, que quebra gordura e a deixa disponível par ser um combustível para os músculos. Esta redução na atividade da enzima leva a uma elevação dos níveis de triglicérides e gorduras no sangue, aumentando o risco de doenças do coração.
Dados
Tínhamos boas razões para acreditar que ficar de pé faria diferença para nossos voluntários, mas também ficamos um pouco ansiosos sobre como eles conseguiriam cumprir a meta. Esta era a primeira vez que uma experiência como esta era feita na Grã-Bretanha e nos perguntávamos se os voluntários iriam conseguir.
Eles conseguiram. Uma mulher com artrite até descobriu que ficar em pé melhorava os sintomas.
Os pesquisadores da Universidade de Chester coletaram dados nos dias em que os voluntários ficaram de pé e quando eles se sentaram durante o trabalho. Quando eles analisaram estes dados, perceberam as diferenças.
Como esperado, os níveis de glicose no sangue voltaram ao normal depois de uma refeição bem mais rapidamente nos dias em que os voluntários ficaram em pé.
A partir dos dados dos monitores de batimentos cardíacos, os pesquisadores também perceberam que ao ficar de pé eles também queimaram mais calorias.
‘Se analisarmos os batimentos cardíacos, podemos ver que eles estão bem mais altos, em média dez batimentos mais altos por minuto, e isso faz uma diferença de cerca de 0,7 caloria por minuto’, afirmou John Buckley.
Não parece muito, mas a soma é de cerca de 50 calorias por hora. Se você ficar em pé três horas por dia durante cinco dias o total chega a 750 calorias. Durante um ano, seria um total de 30 mil calorias ou mais de três quilos e meio de gordura.
‘Se você quiser converter isto em níveis de atividades, então este seria o equivalente a correr dez maratonas por ano. Apenas ficando de pé durante três ou quatro horas em um dia de trabalho’, acrescentou.
Buckley afirmou que, apesar de os exercícios oferecerem muitas vantagens, nossos corpos também precisam do aumento constante, quase imperceptível, na atividade muscular. E ficar de pé fornece isto.
Não podemos todos ficar de pé no trabalho, mas os pesquisadores acreditam que até mesmo pequenos ajustes, como ficar de pé enquanto falamos ao telefone, levantar da mesa e falar com um colega ao invés de enviar um email, ou simplesmente subir pelas escadas, pode ajudar.