Papa apresenta plano de reforma da Igreja

Geral

Um dos mais aguardados documentos do pontificado do papa Francisco, a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (A Alegria do Evangelho), foi apresentado nesta terça-feira no site oficial do Vaticano.
Baseado nas conclusões do Sínodo de Bispos sobre a Nova Evangelização, realizado no último mês de outubro, o documento de mais de 100 páginas traz as reflexões e os planos de reforma do sumo pontífice para a Igreja Católica.

Entre as críticas de Francisco, destacam-se sua decepção com o que chamou de “economia de exclusão” e com o comodismo de alguns padres e agentes evangelizadores. O papa cobra também maior participação das mulheres na Igreja.

Sobre a “economia de exclusão”, segundo o papa argentino, “assim como o mandamento de ‘não matar’ coloca um limite claro para garantir o valor da vida humana, hoje temos de dizer ‘não a uma economia de exclusão e desigualdade’. Essa economia mata. (…) Hoje, tudo está dentro do jogo e da competitividade, onde o forte come o fraco. Como resultado, grandes massas da população são excluídas e marginalizadas: sem emprego, sem horizontes”. Para Francisco, os “excluídos não são explorados, mas resíduos, excedentes”.

Uma das razões para esta situação, ainda de acordo com o documento, reside na relação que estabelecemos com o dinheiro. Para o papa, “pacificamente aceitamos o domínio do dinheiro sobre nós e nossas sociedades”. “A crise financeira que estamos enfrentando nos faz esquecer que no início há uma profunda crise antropológica: a negação do primado do ser humano! Criamos novos ídolos”. (…) “A crise global que afeta as finanças e a economia mostra seus desequilíbrios e, acima de tudo, a grave falta de orientação antropológica que reduz o ser humano a uma das suas necessidades: o consumo”.

Papa Francisco recebeu no Vaticano as delegações de Itália e Argentina, que se enfrentam em amistoso nesta quarta-feira, em Roma (Foto: Osservatore Romano / AP)
Papa Francisco recebeu no Vaticano as delegações de Itália e Argentina, que se enfrentam em amistoso nesta quarta-feira, em Roma (Foto: Osservatore Romano / AP)

Sobre os desafios da Igreja no mundo atual, Francisco afirma que a “humanidade está em um momento uma mudança histórica”, com avanços significativos no campo da saúde, educação e comunicação. “Estamos na era do conhecimento e da informação”, escreveu. Porém, o papa ressalta que há muitos “homens e mulheres do nosso tempo vivendo precariamente diariamente, com consequências terríveis”.

 AS REFLEXÕES E RECOMENDAÇÕES DA EXORTAÇÃO APOSTÓLICA

Criticas a Igreja

Criticando a comodidade dos sacerdotes, Francisco afirma que a passividade é fruto do “pragmatismo cinza da vida cotidiana da Igreja, em que aparentemente tudo prossegue normalmente, mas na realidade a fé está se deteriorando e degenerando em mesquinhez”.

Para ele, essa postura torna os cristãos “múmias de museu”. Para mudar esse panorama, o papa adverte: “Não vamos roubar a alegria da evangelização!”. Para ele, é perceptível em muitos agentes de pastoral uma preocupação “exacerbada pelos espaços pessoais de autonomia”, o que leva a tarefas como um mero apêndice da vida, sem a real dedicação que o catolicismo merece.

Segundo a Exortação Apostólica, a cultura midiática e alguns círculos intelectuais, por vezes, transmitem uma mensagem de desconfiança em relação á Igreja, provocando decepção. “Como resultado, muitos agentes pastorais desenvolvem uma espécie de complexo de inferioridade que os leva a relativizar ou ocultar a sua identidade e crenças cristãs. Um círculo vicioso é então produzido, porque se eles não estão felizes com o que fazem, não se identificam com a sua missão evangelizadora, isso enfraquece a entrega”, diz o documento.

Mulheres

O papa Francisco não concede às mulheres a possibilidade de sacerdócio, mas considera “que elas devem ter um maior espaço e uma presença mais incisiva” na Igreja Católica. O sumo pontífice assegura que “a Igreja reconhece a indispensável contribuição da mulher na sociedade”, pois “a sensibilidade, a intuição e capacidades peculiares costumam ser mais próprias das mulheres que dos homens”.

Jorge Bergoglio explica que já há mulheres que compartilham responsabilidades pastorais junto com os sacerdotes, mas também reconhece que é necessário ampliar os espaços para a presença feminina. ”Porque o gênero feminino é necessário em todas as expressões da vida social, por isso que é preciso garantir a presença das mulheres também no âmbito laboral e nos diversos lugares onde são tomadas as decisões importantes, tanto na Igreja como nas estruturas sociais”, acrescenta o pontífice argentino.

Evangelização

Exortação Apostólica também foi entregue a alguns artistas “para ressaltar o valor da beleza como forma privilegiada de evangelização”, segundo explicou o Vaticano, incluindo o escultor japonês Etsuro Sotoo, encarregado de realizar algumas das obras na Sagrada Família de Barcelona, e Anna Gulak, uma jovem pintora polonesa.

Aborto

O papa Francisco afirmou que “não deve se esperar que a Igreja mude sua postura” sobre a questão do aborto, pois este assunto não está sujeito a “supostas reformas ou modernizações” e opinou que “não é progressista pretender resolver os problemas eliminando uma vida humana”.

O sumo pontífice acrescentou que “frequentemente para ridicularizar a defesa que a Igreja faz de suas vidas, procura-se apresentar sua postura como algo ideológico, obscurantista e conservador”. No entanto, esta defesa da vida por nascer “está intimamente ligada à defesa de qualquer direito humano”, sustentou.

Islamismo e outras religiões

O papa diz que é possível aprender com outras religiões. “O ecumenismo é um caminho iniludível da evangelização. É importante o enriquecimento recíproco. Quantas coisas podemos aprender uns com os outros”. (…) “O diálogo inter-religioso é uma condição necessária para a paz no mundo e não obscurece a evangelização”.

Apesar de mencionar “episódios de fundamentalismo violento”, em referência aos atentados contra cristãos em países muçulmanos, o papa convida os fiéis a evitar “odiosas difusões”, já que, segundo ele, “o verdadeiro islã e uma adequada interpretação do Corão se opõem a toda violência”.

Desafios da fé católica e críticas a algumas modalidades de cristianismo

“A fé católica de muitos povos encontra-se hoje perante o desafio da proliferação de novos movimentos religiosos, alguns tendentes ao fundamentalismo e outros que parecem propor uma espiritualidade sem Deus. Isto, por um lado, é o resultado de uma reação humana contra a sociedade materialista, consumista e individualista e, por outro, um aproveitamento das carências da população que vive nas periferias e zonas pobres, sobrevive no meio de grandes preocupações humanas e procura soluções imediatas para as suas necessidades. Estes movimentos religiosos, que se caracterizam pela sua penetração subtil, vêm preencher, dentro do individualismo reinante, um vazio deixado pelo racionalismo secularista. Além disso, é necessário reconhecer que, se uma parte do nosso povo batizado não sente a sua pertença à Igreja, isso deve-se também à existência de estruturas com clima pouco acolhedor nalgumas das nossas paróquias e comunidades, ou à atitude burocrática com que se dá resposta aos problemas, simples ou complexos, da vida dos nossos povos. Em muitas partes, predomina o aspecto administrativo sobre o pastoral, bem como uma sacramentalização sem outras formas de evangelização”.

Desigualdade

O papa condena a especulação e as causas estruturais da desigualdade. “A necessidade de resolver as causas estruturais da pobreza não podem ser adiadas, não só pela razão pragmática da urgência para a boa ordem da sociedade, mas porque a sociedade precisa ser curada de uma doença que está enfraquecendo-a e frustrando-a e que só podem levar a novas crises. Projetos de bem-estar social, que preenchem certas necessidades, podem ser só consideradas meras repostas temporárias. Até que os problemas dos pobres não sejam radicalmente resolvidos pela rejeição absoluta da autonomia dos mercados e da especulação e pelo ataque às causas estruturais da desigualdade, nenhuma solução vai ser encontrada para os problemas do mundo, ou para qualquer problema. A desigualdade é a raiz das doenças sociais”.

Políticos

“Peço a Deus para fazer crescer o número de políticos capazes de entrar em um verdadeiro diálogo que oriente efetivamente a cura das causas e não a aparência dos males do nosso mundo! A política, tão denegrida, é uma vocação sublime, é uma das mais preciosas formas de caridade porque busca o bem comum. Nós temos de nos convencer de que a caridade não é apenas o princípio das micro-relações, com amigos, família, mas também das macro-relações, como a social, econômica e política. Rogo ao Senhor para que nos conceda mais políticos que realmente sentem a sociedade, as pessoas, a vida dos pobres! É imperativo que os governos e as autoridades financeiras levantem os olhos e ampliem as perspectivas dos pobres, os ajudem a ter um trabalho digno, educação e cuidados de saúde”.

(…) “Há políticos – e até líderes religiosos – que se perguntam por que as pessoas não os entendem e não os seguem se suas propostas são tão lógicas e claras. Possivelmente porque eles se instalaram no reino da ideia pura e reduziram a política ou fé para a simples retórica”.

Pobreza

“Alguns simplesmente deleitam-se em culpar os pobres e os países pobres de seus próprios males, com generalizações indevidas, e têm como objetivo encontrar a solução em uma ‘educação’ que os tranquilize e os converta em criaturas domesticadas e inofensivas. Isso se torna ainda mais irritante se os excluídos veem crescer esse câncer social que é a corrupção em muitos países, governos, empresas e instituições, seja qual for a ideologia política dos governantes.”

Corrupção

“Enquanto alguns ganhos de poucos crescem exponencialmente, a maioria fica cada vez mais distante do bem-estar de que a minoria feliz desfruta. Esse desequilíbrio vem de ideologias que defendem a autonomia absoluta dos mercados e especulação financeira”. (…)

“Instaura-se uma tirania invisível, por vezes virtual, imposta unilateralmente e implacável”.

(…) “A corrupção ramificada e a evasão fiscal egoísta assumiram uma dimensão global. O desejo de poder e não têm limites. Neste sistema, que tende a fagocitar tudo a fim de aumentar os lucros, tudo o que é frágil, como o meio ambiente, não tem defesa contra os interesses do mercado divinizado”.

Homilia

O papa diz que preleção não pode ser demorada e virar um espetáculo. “A homilia não pode ser um espetáculo de divertimento, não corresponde à lógica dos recursos mediáticos, mas deve dar fervor e significado à celebração. É um género peculiar, já que se trata de uma pregação no quadro duma celebração litúrgica; por conseguinte, deve ser breve e evitar que se pareça com uma conferência ou uma lição. O pregador pode até ser capaz de manter vivo o interesse das pessoas por uma hora, mas assim a sua palavra torna-se mais importante que a celebração da fé. Se a homilia se prolonga demasiado, lesa duas características da celebração litúrgica: a harmonia entre as suas partes e o seu ritmo.”

Judaísmo

Um olhar muito especial é dirigido ao povo judeu, cuja Aliança com Deus nunca foi revogada, porque ‘os dons e o chamamento de Deus são irrevogáveis’ (Romanos 11, 29). A Igreja, que partilha com o Judaísmo uma parte importante das Escrituras Sagradas, considera o povo da Aliança e a sua fé como uma raiz sagrada da própria identidade cristã (Romanos 11, 16-18).

“Como cristãos, não podemos considerar o Judaísmo como uma religião alheia, nem incluímos os judeus entre quantos são chamados a deixar os ídolos para se converter ao verdadeiro Deus (Tessalonicenses 1, 9). Juntamente com eles, acreditamos no único Deus que atua na história, e acolhemos, com eles, a Palavra revelada comum. O diálogo e a amizade com os filhos de Israel fazem parte da vida dos discípulos de Jesus. O afeto que se desenvolveu leva-nos a lamentar, sincera e amargamente, as terríveis perseguições de que foram e são objeto, particularmente aquelas que envolvem ou envolveram cristãos”.

Evangelização

“Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo atual que à autopreservação. A reforma das estruturas, que a conversão pastoral exige, só se pode entender neste sentido: fazer com que todas elas se tornem mais missionárias, que a pastoral ordinária em todas as suas instâncias seja mais comunicativa e aberta, que coloque os agentes pastorais em atitude constante de ‘saída’ e, assim, favoreça a resposta positiva de todos aqueles a quem Jesus oferece a sua amizade”.

“Economia de exclusão”

“Assim como o mandamento de ‘não matar’ coloca um limite claro para garantir o valor da vida humana, hoje temos de dizer ‘não a uma economia de exclusão e desigualdade’. Essa economia mata. (…) Hoje, tudo está dentro do jogo e da competitividade, onde o forte come o fraco. Como resultado, grandes massas da população são excluídas e marginalizadas: sem emprego, sem horizontes”. (…)

“Os excluídos não são explorados, mas resíduos, excedentes”.

Crise financeira e o consumo

O papa critica o consumo e o que chama de criação de novos ídolos. “Pacificamente aceitamos o domínio do dinheiro sobre nós e nossas sociedades”. (…) “A crise financeira que estamos enfrentando nos faz esquecer que no início há uma profunda crise antropológica: a negação do primado do ser humano! Criamos novos ídolos”. (…)

“A crise global que afeta as finanças e a economia mostra seus desequilíbrios e, acima de tudo, a grave falta de orientação antropológica que reduz o ser humano a uma das suas necessidades: o consumo”.

Comodismo da Igreja Católica

Criticando a comodidade dos sacerdotes, o papa Francisco afirma que a passividade é fruto do “pragmatismo cinza da vida cotidiana da Igreja, em que aparentemente tudo prossegue normalmente, mas na realidade a fé está se deteriorando e degenerando em mesquinhez”. Para ele, essa postura torna os cristãos “em múmias do museu”.

Para mudar esse panorama, o papa advertiu: “Não vamos roubar a alegria da evangelização!”. Para ele, é perceptível em muitos agentes de pastoral uma preocupação “exacerbada pelos espaços pessoais de autonomia”, o que leva a tarefas como um mero apêndice da vida, sem a real dedicação que o catolicismo merece.

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