Morre Zeca Tatuzinho, cantador e instrumentista do Divino de Amarante

Amarante

O cantador e instrumentista do Divino de Amarante, José Evaristo Barbosa, conhecido como Zeca Tatuzinho, morreu nesta segunda-feira (09), vítima de um problema pulmonar. A informação foi confirmada ao Somos Notícia pelo proprietário do Museu do Divino, professor Marcelino Barroso.

Zeca Tatuzinho nunca deixou de lado o que mais gostava de fazer, trabalhar. “Ele tinha uma doença recorrente, sempre agravada com as atividades dele, incompatíveis com o seu estado: roça e trabalho noturno”, explicou Marcelino.

Muito conhecido em Amarante, Zeca Tatuzinho deixa um legado de amor, devoção e dedicação às festividades do Divino Espírito Santo, e será lembrado com orgulho e carinho por familiares, amigos, conhecidos e devotos do Divino.

“Tocava o Divino com tanto amor…”, disse Ana Helena em um grupo de WhatsApp. “Muito triste. Gente boa, Seu Tatu! Descanse em paz e que a luz perpétua o ilumine”, afirmou a professora Euzeni Dantas.

Amigos e familiares vão passar a madrugada se despedindo de Zeca Tatuzinho, que será sepultado às 8h na manhã desta terça-feira (10) no cemitério da Malhada Bonita, na comunidade Buritirana, zona rural de Amarante.

A bandeira do Divino e tambor, segundo o professor Marcelino Barroso, vão acompanhar o cortejo, marcando a passagem triunfante do cantador e instrumentista nas festividades do Divino ao longo dos anos.

Sob forma de crônica, o professor Marcelino Barroso deixou também sua homenagem a Zeca Tatuzinho. Confira!

O Divino não desampara ninguém

Marcelino Barroso de Carvalho

O patrimônio imaterial de Amarante perde, neste 9 de agosto de 2021, um dos seus guardiães, o senhor José Evaristo Barbosa, 57 anos, conhecido como Zeca Tatuzinho; lavrador, vigia noturno e, mais que tudo, fiel devoto do Divino Espírito Santo. Nesta última condição, tornou-se bastante conhecido, pois, além de ser um exímio batedor de caixa (tambor), era um respeitável cantador e repentista.

Quase todo cantador de Divino é também repentista, mas Zeca Tatuzinho tinha uma extraordinária capacidade de transformar em versos o cenário de cada ambiente em que o seu bando precatório chegasse, incluindo nas cantorias pessoas presentes no local e objetos de devoção que podiam ser vistos nas paredes das casas ou em seus altares domésticos.

Nas desobrigas anuais do Divino, Seu Zeca cantava nas casas, nas roças e até nos cemitérios de distantes povoados de Amarante. Quando se aproximava a Festa do Divino de Amarante, os divineiros do Pé de Pequi, área urbana contígua ao bairro Areias, transmudavam-se em Divino da Vila Nova (Divino de Dona Dedé), para puxar os cortejos peditórios ou procissões luminosas do Tríduo Preparatório da Festa de Pentecostes, celebrada 50 dias após a Páscoa, quando o Espírito Santo desceu sobre os apóstolos, sendo, por isso, comemorada como marco do nascimento da Igreja.

Na sua simplicidade, Zeca Tatuzinho passou a vida contribuindo para a preservação, na memória popular, do mais importante acontecimento do cristianismo, que é a instituição de sua própria Igreja. No filme “Divino Encanto”, de Luciano Klaus, rodado em Amarante, Zeca é o principal protagonista, retratado nas rotinas de sua faina como lavrador, desde a queima da roça até a colheita da safra. Vida duríssima, mas de um lirismo poético, vez que ele colocava o fermento de seu repente em tudo o que fazia, da sega do arbusto intruso à incrustação da semente na terra destocada e fértil.

Fui surpreendido alguma vez até por invadir seu verso, homenagem ingênua de um generoso cantador, a quem sempre venerei como autoridade, na simbólica hierarquia dos cortejos de cantoria. Eu era – e sou – um mero súdito, no Império do Divino, mas Seu Zeca me tratava “de igual pra igual”, como se diz na gíria, e isso me enchia de esperança, por saber que ele inspirava e infundia nas pessoas uma grande confiança na continuidade da devoção que alimentou a vida material e espiritual de minha tia-avó, Mãe Dedé, fundadora da Festa do Divino do bairro Vila Nova (1954), em Amarante.

Hoje eu sei que, no céu, estão sendo cantadas as “Alvoradas”, para receber um pequeno homem que, em vida, tornou-se um gigante na fé, exemplo de esposo, de pai, de amigo e de trabalhador. Sua vida, agora, “É uma Alvorada Nova; é de manhã bem cedo; é sobre a madrugada”, porque “O meu Divino é Pai amado; não desampara ninguém; anda na casa do rico, e na do pobre também”. Para Dona Nilza, sua esposa, e para seus filhos e demais familiares, chovam as bênçãos do “Divino Consolador”! Assim ele cantava; assim eu rogo; assim será!

Fotos: Denison Duarte

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