Os megaprojetos da Amazônia brasileira ameaçam as ambições verdes de Lula

Os megaprojetos da Amazônia brasileira ameaçam as ambições verdes de Lula

Internacional

RIO DE JANEIRO (AP) – Após sua cerimônia de posse em 1º de janeiro, o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva subiu a rampa do palácio presidencial de braços dados com o líder indígena Raoni Metuktire, instantaneamente reconhecível por seu toucado amarelo e lábio de madeira placa.

Mas uma grande ferrovia que aceleraria o desmatamento na terra ancestral de Metuktire corre o risco de azedar as relações entre o líder esquerdista e o chefe do povo Kayapó. E é apenas um dos vários megaprojetos que, segundo ativistas e especialistas, devastariam o mundo natural – e prejudicariam seriamente a recém-descoberta imagem de Lula como defensor do meio ambiente – se prosseguissem.

Outros incluem um projeto de perfuração de petróleo perto da foz do rio Amazonas; uma rodovia que cortaria algumas das áreas mais protegidas da floresta amazônica; e renovação da licença de uma hidrelétrica gigante.

“Lula está falando de meio ambiente, mostrando preocupação com o garimpo ilegal, demarcando territórios indígenas. Ele já aprendeu muito, mas precisa aprender mais. Continuamos muito preocupados”, disse Alessandra Korap, liderança indígena do povo Munduruku que recentemente ganhou o Prêmio Goldman de Meio Ambiente para trabalhos que incluíam combater a mineração ilegal.

Sob o antecessor de Lula, Jair Bolsonaro, o desmatamento atingiu a maior alta em 15 anos e as restrições ambientais foram enfraquecidas. O líder de extrema-direita ocupou cargos-chave em órgãos ambientais com aliados do agronegócio e militares. Os direitos dos povos indígenas foram pisoteados.

Depois de derrotar Bolsonaro por pouco nas eleições do ano passado, Lula tem se esforçado para colocar a proteção ambiental e o respeito aos direitos dos povos indígenas no centro de seu terceiro mandato. Ele retomou a busca bem-sucedida de doações internacionais para o Fundo Amazônia de combate ao desmatamento, lançou uma campanha militar para expulsar garimpeiros ilegais do território Yanomami, se comprometeu a acabar com todo o desmatamento ilegal até 2030 e reiniciou a demarcação das áreas indígenas.

Mas Lula enfrenta duras provas nos grandes projetos de infraestrutura. Enquanto os oponentes os consideram catastróficos, alguns no Partido dos Trabalhadores de Lula continuam a vê-los como essenciais para gerar empregos e promover o crescimento. E o Brasil, uma nação em desenvolvimento, tem grande demanda por benefícios socioeconômicos.

O PROJETO DE PERFURAÇÃO DE PETRÓLEO

O Ibama, agência ambiental do Brasil, decidirá nos próximos meses se licenciará a perfuração em um setor perto da foz do Amazonas. A aprovação certamente levaria à perfuração em toda a região, disse Suely Araújo, ex-chefe do Ibama e agora especialista em políticas públicas do Observatório do Clima, uma rede de organizações sem fins lucrativos.

“É uma questão de coerência. Os discursos de Lula sobre proteção ambiental e crise climática são perfeitos. Mas se a exploração de petróleo for intensificada, isso significará a expansão dos combustíveis fósseis. Haveria uma incoerência”, disse Araújo.

Durante os primeiros mandatos de Lula, grandes descobertas offshore tornaram-se um meio de financiar programas de saúde, educação e bem-estar social.

“Em grande parte, essa visão permanece, o que significa que será muito difícil convencer o governo a desistir de projetos estratégicos, mesmo quando houver riscos socioambientais significativos”, disse Maiara Folly, diretora do CIPO, think tank especializado em clima e relações internacionais.

Com a produção existente chegando ao pico nos próximos anos, há grande interesse em garantir mais na costa norte do Brasil. É um local único e biodiverso, que abriga faixas de manguezais pouco estudadas e um recife de coral.

Araújo disse que o projeto corre o risco de vazamentos que seriam levados para outro lugar por fortes marés.

A gigante petrolífera estatal Petrobras destinou quase metade de seu orçamento de exploração de US$ 6 bilhões para cinco anos para a área. O CEO Jean Paul Prates disse que o primeiro poço seria temporário e que a empresa nunca registrou vazamento em perfuração offshore.

O ministro da Energia, Alexandre Silveira, disse em março que a área é o “passaporte para o futuro” para o desenvolvimento da região norte do Brasil. Lula usou o mesmo termo para descrever as descobertas anteriores de petróleo offshore.

Oitenta organizações da sociedade civil e ambientalistas, WWF Brasil e Greenpeace, pediram que a licença fosse recusada enquanto se aguardava um estudo aprofundado.

A REPRESA HIDROELÉTRICA

A hidrelétrica de Belo Monte, um colosso de concreto no rio Xingu, foi planejada no governo Lula e construída por sua sucessora, Dilma Rousseff. Os apoiadores viram isso como uma forma de gerar empregos e adicionar energia à rede elétrica do Brasil.

Populações indígenas e ativistas ambientais se opuseram ferozmente, e estudos mostram seus impactos têm sido desastrosos. Organizações da sociedade civil estimam que dezenas de milhares de pessoas foram deslocadas, e especialistas atribuem uma onda de violência local à perda de empregos. Uma área de preocupação é a Volta Grande do Xingu, ou Curva Grande, que perdeu grande parte de sua água. Isso provocou o desaparecimento dos peixes, base de subsistência de muitas populações indígenas.

Belo Monte está de volta à agenda de Lula, com o Ibama avaliando a renovação da licença. A agência informou no verão passado que a Norte Energia, proprietária da barragem, não respeitou muitas das condições de sua licença original.

A mídia local disse que a Norte Energia propôs distribuir R$ 20.000 (cerca de US$ 4.000) em compensação a cerca de 2.000 pescadores.

Em janeiro, pesquisadores da região publicaram uma carta no site de jornalismo ambiental Sumaúma convocando Lula e seu governo a investigar e punir crimes e injustiças envolvendo a barragem.

“Qualquer governo realmente comprometido com a conservação da Amazônia e o combate à crise climática tem a obrigação de reconhecer os problemas causados ​​por Belo Monte e reparar os danos e impactos causados”, diz a carta.

As populações locais exigem que a licença seja renovada apenas se a Norte Energia concordar em usar a água de uma forma que permita a manutenção da vida dentro e ao redor do rio.

A licença foi originalmente emitida sob forte pressão do governo de Dilma Rousseff, disse Folly. Em entrevista a Sumaúma em março, a ministra do Meio Ambiente de Lula, Marina Silva, prometeu que desta vez “ninguém vai ser coagido como antes, e isso representa uma mudança total”.

A ESTRADA

A rodovia BR-319 liga Porto Velho a Manaus. Foi abandonado na década de 1980 depois de cair em desuso, mas o governo deu sinais de querer repavimentá-lo para facilitar a exportação de commodities.

Ambientalistas e cientistas alertam que isso pode levar ao desmatamento descontrolado na região, aumentando a especulação imobiliária e facilitando o acesso de grileiros. Depois que Bolsonaro anunciou que um trecho da estrada seria repavimentado, o desmatamento nas áreas próximas aumentou rapidamente, de acordo com a agência espacial nacional do Brasil.

Lula disse à Rádio Difusora em junho passado que era a favor da reconstrução, chamando-a de importante para as economias dos estados do Amazonas e Rondônia. O presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, disse à AP em março que a agência retardou o processo de licenciamento para analisar com cuidado.

O CAMINHO DE FERRO

Preocupações semelhantes envolvem uma ferrovia de 933 quilômetros (cerca de 580 milhas) conhecida como Ferrograo, que transportaria grãos do interior em direção ao rio Tapajós para eventual embarque no exterior.

O projeto significaria menos caminhões transportando soja e milho e, assim, reduziria as emissões de carbono. Mas também pode significar o aumento do desmatamento. Um estudo de 2021 da Universidade Federal de Minas Gerais projetou o desmatamento de mais de 230.000 hectares em terras indígenas no estado de Mato Grosso até 2035, se for concluído.

A ferrovia está paralisada aguardando a decisão do tribunal sobre a constitucionalidade da lei que permitiu a derrubada de florestas no Parque Nacional do Jamanxim para abrir caminho para sua travessia.

Em janeiro, o ministro dos Transportes de Lula, Renan Filho, colocou Ferrograo entre os projetos prioritários.

Doto Takak-Ire, que assim como o cacique Raoni é uma liderança dos Kayapó, disse em coluna publicada no jornal O Globo em março que o projeto ameaçaria a sobrevivência de 48 indígenas e o chamou de “a ferrovia do genocídio indígena”.


Fonte: AP News

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