É quase impossível caminhar pelas ruas da capital da Romênia, Bucareste, por mais de cinco minutos sem topar com um vira-latas.
De acordo com estimativas oficiais, há cerca de 65 mil cães sem dono na cidade – aproximadamente um para cada 30 moradores da capital romena.
Mas esta situação está prestes a mudar, caso uma nova lei aprovada pelo parlamento em setembro e que enfrenta grande resistência de defensores dos direitos dos animais receba a sanção do presidente Traian Basescu.
A lei estabelece que todos os cães em canis públicos, caso não sejam adotados ou recuperados por seus donos em um prazo de duas semanas, possam ser ‘submetidos à eutanásia’.
A proposta tem muito apoio na Romênia, mas sofreu críticas em várias partes do mundo – com alguns ativistas implorando para que se evite um ‘massacre’.
Protestos
A proposta de eliminar os cães de rua foi aprovada no parlamento do país depois da morte de um menino de quatro anos, Ionut Anghel, em um ataque de vira-latas em Bucareste no último dia 2 de setembro.
Após o ataque, o prefeito, Sorin Oprescu, anunciou que realizaria um referendo para aprovar o sacrifício de cães na cidade. Com a aprovação da lei pelo Parlamento, isso passou a não ser mais necessário, bastando que a Corte Constitucional do país aprovasse a medida e ela recebesse o aval do presidente.
Em 25 de setembro, a Corte emitiu um parecer dizendo que a lei é constitucional. Por sua vez, o presidente já disse que pretende sancionar a mudança.
O projeto de lei também estabelece o registro obrigatório de todos os cães e prevê penas duras para pessoas que abandonarem seus animais.
‘Foi preciso que essa tragédia acontecesse para que eu percebesse que existem cachorros na rua’, disse a cantora Nadine Apostolescu, uma cantora famosa e dona de um cão, que agora virou o rosto mais conhecido de uma campanha do governo a favor da lei.
Em alguns países, a proposta gerou protestos em frente a embaixadas romenas. Celebridades como Brigitte Bardot e Pamela Anderson se manifestaram publicamente contra o projeto.
A repercussão internacional acabou dando força aos simpatizantes da iniciativa de matar os cães, que dizem que os ‘amantes de animais’ – nome usado no país para, em parte, atacar, de forma depreciativa, os defensores dos vira-latas – estão distorcendo a verdade ao difundir, em alguns casos, fotos mostrando atos de crueldade contra cães de rua feitas em outros países, alegando que foram feitas na Romênia.
Origem no comunismo
A disseminação destes animais de rua não é nova no país, mas se intensificou bastante, sobretudo após o fim do comunismo, quando muitas casas foram demolidas, dando lugares a prédios.
As pessoas que moravam em casas com animais de estimação acabaram abandonando-os nas ruas.
As mordidas de cães são um problema comum na capital romena. Só nos primeiros oito meses deste ano, apenas um instituto tratou dez mil pessoas após elas terem sido vítimas dos animais em Bucareste, e em 2006 um turista japonês já havia morrido depois de ser mordido.
Os críticos dizem que a iniciativa do governo não só é cruel, como também ineficaz. Eles dizem que o projeto de lei não lida com o problema da procriação dos animais.
Além de um programa de esterilização, os defensores dos cães defendem um maior investimento em abrigos ou a adoção de incentivos maiores à adoção.
Entretanto, iniciativas semelhantes adotadas em ocasiões anteriores tiveram sucesso limitado na Romênia.
‘O mais possível é que apenas os cães mais dóceis sejam capturados, e as autoridades não terão recursos para capturar os mais agressivos, que continuarão se reproduzindo e provocando problemas’, diz Ovidiu Rosu, de uma entidade de veterinários.
Pesquisas de opinião indicam que os apoiadores da iniciativa do governo estão em maior número do que os opositores – em proporção de 70% para 30%, em algumas projeções.
O ponto de concordância entre todos é que não há mais lugares nas ruas para os animais.