Estrago foi tão grande que é impossível restaurar tudo, diz vítima de tsunami

Internacional

Apesar de todo o treinamento para desastres naturais Maki Sato, 43, se viu fazendo escolhas difíceis logo após o maior terremoto já registrado no Japão, principalmente ao decidir entre socorrer a mãe ou os filhos.
Considerada uma heroína local, ela conta como ajudou a salvar crianças de uma escola e defende que os sobreviventes têm de prosseguir suas vidas sem esperar a ajuda do governo.
Eu trabalhava em um supermercado de Ishinomaki (335 km ao norte de Tóquio) na tarde de 11 de março de 2011, quando aconteceu o grande terremoto do nordeste do Japão.
Assim que pude, corri para o meu carro. Pelo treinamento da nossa família em caso de tsunami, eu tinha de salvar a minha mãe, enquanto o meu sogro se encarregaria de buscar os meus dois filhos pequenos na escola fundamental.
Dirigi até o cruzamento com a estrada principal. De onde eu estava, era a mesma distância entre a casa da minha mãe, para o lado esquerdo, e a escola dos meus filhos, para o lado direito.
Mas eu conhecia a minha mãe tão bem que tinha certeza de que ela iria ao hospital para salvar a minha avó, que estava internada. Por um breve período, com as mãos no volante e parada no cruzamento, eu pensei no que deveria fazer.
Pensei ter ouvido a voz da minha mãe: “O que você está fazendo? Você é uma mãe. Deve fazer o que as mães fazem: salve as suas crianças.”
Então virei à direita, dizendo: “Desculpe, mãe, desculpe, mãe.” Acelerei sem pensar em mais nada e fui para a escola fundamental Ogatsu.
Quando a escola fazia os treinamentos de fuga, as coisas eram bem organizadas. Mas, quando eu cheguei lá, no meio do terremoto, a situação era caótica.
As crianças carregavam o que podiam, correndo dentro do prédio. Elas não estavam chorando ou gritando, acho que estavam assustadas demais até para isso.
Perguntei à professora: “Onde estão os meus filhos?”. A professora respondeu: “Não se preocupe, o avô veio buscá-las, estão bem”.
Pensei comigo mesma que deveria ir atrás das minhas crianças. Mas depois concluí que elas estavam bem, enquanto as crianças dentro da escola, algumas mais novas que as minhas, estavam no meio do caos, sem saber o que fazer. Não fui capaz de ir embora assim.
Eu perguntei à professora: “O que vocês farão com as crianças?”. Naquele momento, a terra ainda tremia. “Por enquanto, vamos continuar aqui porque o terremoto ainda não parou.”
Naquele momento, eu me lembrei de fotos antigas da escola sendo atingida por um tsunami, em 1933. Lembrei que um navio havia chegado até o pátio. Concluí que as crianças deveriam ser retiradas, que o tsunami viria logo.
Falei com o diretor da escola junto com os professores, mas ele não sabia muito sobre tsunamis e não concordou com a retirada. Mesmo sem a sua autorização, os professores decidiram entre eles que era preciso abandonar a escola.
As crianças, os professores e funcionários correram o para uma escadaria que leva a um santuário na montanha atrás da escola.
Dias depois, o diretor me contou depois que, logo que chegaram ao alto, ouviram um barulho enorme: toda a escola havia sido levada pela onda. Das 104 crianças da Ogatsu, apenas uma morreu porque havia se abrigado em casa com os pais.
Ao ver as crianças deixarem a escola, me senti aliviada e fui atrás dos meus filhos. Quando cheguei à minha antiga casa, encontrei a minha sogra e os meus filhos do lado de fora. Perguntei à sogra: “Onde está o avô?” “Está lá dentro, foi buscar cobertas”.
A nossa casa era a mais baixa, e o tsunami era iminente. Falei para a sogra: “Cuide das crianças, vou pegar o avô”. Corri à casa enquanto observava o mar.
Dentro da casa, gritei, nervosa: “Avô, saia agora!” Então ele veio carregando cobertas e botas. “Avô, o tsunami está vindo, corra!”.
Corri ao seu lado para apressá-lo e carreguei algumas cobertas para ajudá-lo. De volta à rua, estacionei melhor o carro para não obstruir a passagem.
As pessoas já estavam em pânico. Gritei: “O tsunami está vindo, corram para as montanhas.” Primeiro tivemos de escalar um muro e depois subir uma escada.
As crianças estavam na frente de mim, mas começaram a voltar e gritaram: “Rápido, mãe!” Dei uma bronca como nunca havia dado: “Não voltem, subam!”. Elas entenderam e obedeceram.
Quando vi as crianças já em um lugar mais alto, fiquei tão aliviada que me senti fraca. Senti o meus ossos separados dos corpo.
Estava nevando, o chão era escorregadio e ainda havia tremores. Mas pensei que tinha de sobreviver. Continuei subindo.
Quando finalmente olhei para trás, vi casas e carros sendo engolidos. Era um barulho muito estranho.
Decidimos ir a um crematório, onde havia teto para nos proteger da neve. Havia umas 120 pessoas. Ainda ficamos uns três ou quatro dias lá, perdemos a noção do tempo. Nesse tempo, comemos arroz, batata e salmão que achamos flutuando na água.
No dia seguinte, o meu pai conseguiu se unir a nós e contou que a minha mãe e a minha avô estavam mortas.
Disse que a minha mãe foi ao hospital resgatar a minha avó, enquanto ele fugiu para a montanha com um primo e uma prima, que estava grávida. Elas correram para o terceiro andar do hospital, onde tem uma terraço.
Do alto da montanha, o meu pai viu quando a onda atingiu o hospital. Quarenta pacientes morreram. Apenas alguns funcionários sobreviveram. Até hoje, imagino o que meu pai viu e ouviu.
Conto a minha história porque não quero que ninguém passe por isso. Quero que o mundo discuta o que fazer para proteger as pessoas.
O estrago foi tão grande que é impossível restaurar tudo. Hoje, vivemos a 30 km daqui, em um apartamento alugado pelo governo. Por um lado, estamos felizes por termos emprego e tocarmos a vida. É fácil pedir mais ajuda, mas primeiro é preciso ficar de pé.
Se não nos fortalecermos por dentro, as coisas vão ficar muito difíceis. Os que podemos tocar a vida sozinhos deveríamos dizer que não precisamos mais de ajuda do governo.
Se continuarmos pedindo ajuda, seremos vítimas para o resto da vida. Não quero que isso aconteça.
Fonte: Folha
Denison Duarte – Amarante (PI)

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