Nesta quarta-feira (29), o Governo Federal reconheceu a situação de calamidade pública em Buriticupu, cidade localizada a 417 km de São Luís, que está sendo engolida em razão do surgimento de crateras, deixando famílias desabrigadas.
O Ministério de Integração e Desenvolvimento informou que o Governo Federal aprovou um processo de assistência social no valor de R$ 687 mil para aquisição de materiais de higiene pessoal, dormitório, aluguel de veículos e combustível para as 220 famílias que precisarão deixar suas casas em Buriticupu por conta das crateras.
As voçorocas, fenômenos geológicos que surgem como pequenas fendas no solo, geralmente provocadas pela força da água da chuva, são as responsáveis pelas crateras gigantes na cidade de Buriticupu. Quando atingem o lençol freático, as fendas chegam ao nível de voçorocas, avançando em média cinco metros sobre a cidade a cada ano.
O desmatamento, a ocupação desordenada, o relevo e o solo arenoso são os principais fatores que contribuíram para o surgimento e avanço desses buracos gigantes.
“A própria atividade humana, né? Sem saber, ela vai criando o problema. Como não tem uma política defensiva, ela vai causando essas erosões. O solo é bastante solto, ou seja, ele não tem nenhum valor de coesão. Então é o é um material meio solto, qualquer chuva, qualquer enxurrada vai levando micropartículas do solo para os níveis mais baixos”, explicou ao g1 o geólogo Clodoaldo Nunes.
Casas engolidas por crateras
No total, mais de 50 casas da cidade já foram engolidas pelas crateras de Buriticupu e as voçorocas ameaçam bairros inteiros. Das cerca de 200 famílias que correm risco de perder suas casas por conta das voçorocas, 27 já foram retiradas dos imóveis.
O comerciante Carlos Martins fez um pequeno portão no muro de sua residência por onde acompanha a situação da cratera que fica atrás da casa e da olaria onde ele produz tijolos.
“Eu acompanho uma cena lamentável, porque é uma destruição que a cada dia, a cada período de inverno, cresce de maneira assustadora. São problemas que surgem pequenos, mas como não têm assistência, não tem quem faça, aí dá isso aí, uma cratera enorme, que cada vez engole mais casas e destrói o sonho que as pessoas constroem”, disse o comerciante.
Existem duas decisões judiciais que obrigam a prefeitura de Buriticupu a garantir moradia segura para as famílias e desenvolver ações de contenção das crateras.
Em nota, a prefeitura de Buriticupu disse que as últimas chuvas agravaram as erosões na cidade e que, por causa da incapacidade financeira do município, pediu apoio da Defesa Civil Nacional. Ainda segundo a nota, enquanto o Governo Federal não reconhecia a situação de calamidade pública para realizar obras de contenção e reconstrução das áreas afetadas, a prefeitura estava fazendo o remanejamento de famílias para locais seguros.
“Até mesmo antes da ação judicial, a prefeitura, o que que ela faz? Cataloga as áreas de risco, faz o monitoramento, realoca as pessoas e faz obras paliativas dentro das suas possibilidades. Uma vez que o recurso é limitado”, contou Gustavo Costa, assessor jurídico da prefeitura de Buriticupu.
O promotor de justiça José Frazão Sá Menezes Neto, titular da 2ª Promotoria de Justiça de Buriticupu, afirmou que esse problema não é atacado na medida como deve ser feita e que é uma sequência de negligências de outras gestões também. Ele ainda ressaltou que é importante pensar que existem pessoas e vidas ali.
