A administração do presidente Daniel Ortega foi acusada de fechar mais de 3.000 grupos não-governamentais.
A Assembleia Nacional da Nicarágua votou para dissolver a filial local da Cruz Vermelha, uma organização humanitária sem fins lucrativos, como parte de uma repressão em andamento contra grupos vistos como hostis ao governo de Daniel Ortega.
A lei para fechar a Cruz Vermelha foi aprovada por unanimidade na quarta-feira, com a legislatura sob o controle do Partido Sandinista de Ortega.
Em seu lugar, os legisladores pediram uma “nova Cruz Vermelha da Nicarágua” que funcionaria como um órgão “descentralizado e autônomo” do Ministério da Saúde do governo, embora não esteja claro como o país financiaria tal empreendimento.
O ataque à Cruz Vermelha ocorre em meio a um esforço generalizado para reprimir supostos críticos do governo e outras organizações, incluindo a Igreja Católica.
Como parte da resolução de quarta-feira, o governo da Nicarágua confiscará os bens da Cruz Vermelha no país. Ele acusou a organização sem fins lucrativos de perpetrar “ataques à paz e à estabilidade” por seu papel nas manifestações antigovernamentais em 2018.
Esses protestos, desencadeados por mudanças no sistema de previdência social da Nicarágua, rapidamente passaram de um movimento liderado por estudantes a uma pressão mais ampla contra o governo de Ortega.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos estima que 355 pessoas foram mortas em confrontos com forças do governo entre abril de 2018 e julho de 2019. Outras milhares ficaram feridas, e o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados estimou que mais de 100.000 pessoas fugiram do país em dois anos.
A Cruz Vermelha disse que sua participação nos protestos se limitou a ajudar os feridos, mas o governo da Nicarágua acusou a organização de violar seu compromisso de neutralidade política.
“A própria associação transgrediu as leis do país”, afirmou em um documento ao Legislativo, apoiando as ações de quarta-feira.
Com uma história que remonta a meados de 1800, a Cruz Vermelha forneceu socorro em desastres e assistência de emergência durante conflitos em todo o mundo.
O mandato da Cruz Vermelha na Nicarágua começou com um decreto de 1958 que foi revogado na resolução de quarta-feira. Financiado em grande parte por doações, contou com cerca de 2.000 voluntários e 63 ambulâncias na região, segundo a agência de notícias AFP.
Mais de 3.000 grupos e organizações não-governamentais foram fechados na Nicarágua como parte de sua repressão a supostos dissidentes. Eles variam de um centro equestre à Academia de Letras da Nicarágua, de 94 anos.
Na semana passada, os críticos dizem que o regime de Ortega também prendeu 40 opositores políticos e os acusou de crimes como conspiração e traição.
Isso ocorre depois que a Nicarágua enviou 222 presos políticos para o exílio nos Estados Unidos, privando-os e outros críticos de sua cidadania no processo. Um bispo que se recusou a embarcar no voo, Rolando Alvarez, foi preso sob a acusação de conspiração e “notícias falsas”.
Com informações do site Al Jazeera
Compartilhe este post
