O renomado clube de futebol espanhol Barcelona confirmou um acordo de patrocínio de quatro anos com a República Democrática do Congo. A partir da próxima temporada, a frase “DR Congo – Coração da África” será exibida nas costas das camisas de treino do Barcelona. Esta parceria, no entanto, surge em meio a críticas consideráveis, especialmente devido ao valor que o país, que enfrenta conflitos internos e um subfinanciamento crônico de sua própria liga de futebol, deverá desembolsar.
O acordo custará à República Democrática do Congo cerca de 44 milhões de euros (US$ 50 milhões; £ 38 milhões). Embora o Barcelona não tenha divulgado o valor que receberá, muitos congoleses questionam as prioridades de seu governo, apontando para a falta de investimento no próprio esporte local. Muzinga Lemfu, residente da capital Kinshasa, expressou sua insatisfação à BBC, afirmando: “Quando você fala sobre turismo, deve ser sobre coisas para ver quando as pessoas vêm para cá… para mim, em vez de investir esse dinheiro [no exterior], eles deveriam investir esse dinheiro para construir o país primeiro”.
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Foco em Turismo e críticas sobre direitos humanos
Apesar das vozes críticas, as autoridades da República Democrática do Congo defendem o acordo, argumentando que ele “ajudará a elevar o perfil do país”. Didier Budimbu, o Ministro dos Esportes do país, explicou à BBC Focus on Africa que o patrocínio faz parte de uma estratégia mais ampla para “reposicionar” a República Democrática do Congo como um destino líder para turismo e oportunidades de investimento. Ele também detalhou que a parceria inclui um campo de treinamento para 50 jovens jogadores e 10 treinadores congoleses, além de programas que o Barcelona realizará para crianças em diversas modalidades esportivas. Outro residente, Freddy Kabengele, demonstrou apoio à iniciativa, dizendo estar feliz “em mostrar a DR Congo ao mundo e também em trazer turistas para o país”.
O cenário em que este acordo se concretiza é complexo. Um grupo rebelde ocupou vastas áreas do leste da República Democrática do Congo, embora um cessar-fogo tenha sido recentemente estabelecido. Há preocupações de que acordos com clubes europeus possam desviar a atenção dos combates na região e do histórico de direitos humanos das autoridades. Em fevereiro, a Ministra das Relações Exteriores da República Democrática do Congo, Thérèse Kayikwamba Wagner, chegou a questionar a “moralidade” de arranjos semelhantes.
A República Democrática do Congo já havia selado acordos parecidos com o time italiano AC Milan e o francês AS Monaco. Um exemplo notório é o de Ruanda, rival regional, que desde 2018 mantém um patrocínio com o Arsenal, promovendo o turismo com a frase “Visite Ruanda” nas camisas dos jogadores. Equipes como Paris St-Germain e Bayern de Munique também têm acordos similares, que igualmente geraram críticas, especialmente porque Ruanda nega acusações de apoiar rebeldes na República Democrática do Congo. Em 2023, um acordo turístico que a África do Sul buscava com o Tottenham Hotspur não foi adiante devido a queixas do público.

