Um colar com cerca de 8.500 anos, uma peça inestimável do patrimônio brasileiro, é o grande destaque da exposição “Nem Tudo Que Reluz – Uma Exposição sobre o Adorno e a Arte Contemporânea”, que foi inaugurada nesta terça-feira (29) em São Paulo. O artefato, descoberto no Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí, traz consigo um pedaço da história da ocupação humana no Brasil.
A peça foi encontrada em 2006, durante escavações no sítio arqueológico Toca do Sítio do Meio, um abrigo sob rocha no Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí. Este local, que possui pinturas rupestres datadas de seis a 12 mil anos atrás, revela múltiplas camadas arqueológicas que indicam cerca de 25 mil anos de ocupação humana. O colar foi descoberto em uma dessas camadas, que remonta a 8.500 anos, ao lado de uma placa de ocre, dentes humanos e vestígios de fogueiras.
Segundo Gisele Daltrini, arqueóloga e pesquisadora da Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM), “essa acomodação cuidadosa do colar, da placa e os dentes revelam alguns dos hábitos e práticas desses grupos, provavelmente relacionada a prática funerária ou outra coisa. A gente encontrou apenas parte do que deve ter sido um ritual, então fica difícil dizer”.
O colar é composto por aproximadamente mil sementes de um tipo de gramínea ainda em estudo. Embora o fio que as unia já tivesse se desfeito, a disposição das sementes permitiu inferir que se tratava de um colar de seis voltas. Daltrini explicou que as sementes estavam “perfeitamente acomodadas. Por isso que a gente sabe que era um colar de seis voltas, porque elas estavam em sequência, conforme foi sendo retirado o sedimento que recobria essas sementes, a gente via que elas estavam na sequência”.
A inclusão do colar na mostra de arte contemporânea, realizada no Solar Fábio Prado (antigo Museu da Casa Brasileira), em São Paulo, foi uma surpresa bem-vinda para a curadora Ana Avelar, professora de história da arte da Universidade de Brasília (UnB). Ela contou ao g1 que a peça passou a integrar a exposição graças à intermediação de Sérgio Santos, que atuou no Museu do Homem Americano. “Esse colar foi uma surpresa para nós, porque se trata de uma exposição de arte contemporânea feita por artistas mulheres brasileiras”, afirmou Avelar. Ela complementou: “Nós acolhemos imediatamente a sugestão, pensando que seria muito poderoso contar com algum tipo de adorno encontrado no Brasil, de caráter pré-histórico. É uma peça muito valiosa, inestimável, em termos de importância para o patrimônio brasileiro”.
A exposição, que reúne 32 obras e cerca de 20 artistas mulheres de diversas origens e linguagens, posiciona o colar logo na entrada, em linha paralela a obras da artista Amélia Toledo. Essa disposição serve também como uma homenagem à arqueóloga Niéde Guidon, cujo legado possibilitou descobertas como a do colar. “Apresentamos, como forma de homenagem no hall de entrada, duas mulheres que são as guardiãs desta exposição: Niède, responsável por inúmeras contribuições à ciência e à humanidade, e Amélia, uma artista de grande importância, que se dedicou à educação por meio da arte e que desenvolveu adornos com forte semelhança a elementos pré-históricos”, explicou a curadora.
O colar descoberto em sítio arqueológico do Piauí, colar com mais de 8 mil anos entra em exposição em São Paulo, que esteve em exibição no Museu do Homem Americano, no Piauí, desde 2009, foi cedido para a exposição em São Paulo com autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e retornará ao Piauí ao final do evento. A exposição é gratuita e aberta ao público de terça a quinta-feira e aos fins de semana, das 10h às 18h; às sextas, das 11h às 20h.

