A assistência médica é um benefício essencial que as empresas frequentemente oferecem aos seus funcionários como parte de um pacote de remuneração e vantagens, com o objetivo de reter a mão de obra qualificada. No entanto, o custo crescente desse benefício tem colocado as empresas diante de desafios significativos, especialmente quando se consideram os passivos atuariais de longo prazo associados.
Com fatores como a inflação médica, os avanços tecnológicos e a prevalência de condições crônicas aumentando os custos, estratégias proativas para o gerenciamento de despesas são essenciais. Ao aproveitar insights baseados em dados e explorar soluções inovadoras, as empresas podem mitigar o impacto do aumento das despesas com o plano médico e continuar a apoiar o bem-estar de sua força de trabalho.
De acordo com uma pesquisa americana realizada pela Kaiser Family Foundation (KFF) em 2021, os prêmios dos planos de saúde patrocinados pelo empregador aumentaram 55% na última década nos Estados Unidos. Aqui no Brasil não estamos em realidade diferente: segundo a pesquisa “2023 Global Medical Trend Rates Report” publicada pela AON, empresa líder global em administração de benefícios, o incremento do custo saúde, esperado para 2023, é de 9,3% real, ou seja, acima da inflação. Dentre os principais fatores que causam o aumento das despesas destacam-se a inflação médica, o envelhecimento populacional, os avanços tecnológicos do setor e a demanda por qualidade de atendimento.
A inflação médica é frequentemente superior à inflação geral da economia. Os custos de procedimentos médicos, medicamentos e tecnologias de saúde avançadas tendem a aumentar mais rapidamente do que outros setores, impactando diretamente as despesas das empresas com o benefício.
O fator envelhecimento também assume papel importante, uma vez que idosos tendem a necessitar de cuidados médicos mais frequentes e intensivos, incluindo tratamentos para doenças crônicas e acompanhamento médico regular.
Os avanços na tecnologia médica têm proporcionado diagnósticos e tratamentos mais precisos e eficazes, mas também mais caros. Novos tratamentos e procedimentos muitas vezes envolvem equipamentos de última geração e técnicas especializadas, o que pode contribuir ainda mais para o aumento de custos.
Além de todos os fatores anteriormente mencionados, a demanda dos funcionários por assistência médica de alta qualidade também tem contribuído para o aumento dos custos: as empresas buscam oferecer pacotes de benefícios cada vez mais atrativos, podendo resultar em planos de saúde mais abrangentes e, consequentemente, mais caros.
Esse contexto de impactos multifatoriais exercem influência direta na contabilização dos passivos atuariais de longo prazo a serem registrados pelas companhias. Os passivos atuariais são obrigações futuras que uma empresa assume ao oferecer benefícios (como assistência médica) aos seus ex-funcionários aposentados. O cálculo atuarial desempenha um papel fundamental na estimativa desses passivos, considerando fatores como idade, taxa de inflação médica, tendências de utilização de serviços e longevidade esperada e esses montantes devem ser contabilizados pela empresa em suas Demonstrações Financeiras, tendo efeito contábil no resultado e no patrimônio líquido.
Segundo Andrea Mente, atuária e sócia da ASSISTANTS Consultoria, “essa estimativa é uma tarefa complexa e desafiadora, uma vez que muitos dos fatores que influenciam os custos de assistência médica são incertos e estão sujeitos a alterações. Além desse aspecto, as empresas também precisam considerar as regulamentações e normas contábeis que governam a divulgação dessas obrigações em seus balanços”, destaca a especialista.
Andrea ainda pontua que os efeitos de todas essas premissas podem trazer surpresas ao balanço das empresas: “Os passivos atuariais podem ter impactos significativos nas finanças de uma organização, podendo afetar a liquidez e a capacidade da companhia em investir em outras áreas do negócio. A volatilidade dos custos médicos e as mudanças nas regras regulatórias também podem levar a ajustes frequentes nos cálculos atuariais, afetando a previsibilidade financeira e os fluxos de caixa futuros”, destaca a especialista.
No sentido de buscar alternativas para que as empresas consigam mitigar os efeitos sobre os custos crescentes, Andrea revela que “muitas empresas estão investindo em programas de promoção da saúde para incentivar um estilo de vida saudável entre os seus funcionários, visando reduzir a necessidade de cuidados médicos intensivos e, consequentemente, diminuindo os custos com intervenções mais onerosas como internações e doenças crônicas. Outra estratégia é negociar com as próprias operadoras de saúde taxas mais vantajosas, planos flexíveis, coparticipações ou cobrança por faixas etárias, reduzindo o impacto da sinistralidade do grupo de aposentados”.
Para que as empresas evitem a judicialização da questão, onerando ainda mais as despesas, Andrea alerta: “o custo crescente da assistência médica é um desafio complexo e multifacetado que requer uma abordagem estratégica e cuidadosa por parte da empresa, pois muitas das negociações envolvem acordos sindicais e questões trabalhistas. É preciso que todas as opções sejam avaliadas com cautela, inclusive a possibilidade de a empresa arcar integralmente com o plano médico, como forma de redução do passivo de longo prazo. Não há uma solução comum para todas as companhias, cada caso é um caso”, conclui.
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