Empresários de diversos setores brasileiros manifestam grande preocupação com a decisão do presidente americano Donald Trump de sobretaxar produtos nacionais em 50%. Eles sugerem que o governo do presidente Lula busque auxílio no setor privado para costurar um consenso diplomático, pedindo cautela para não escalar a polarização política e proteger os interesses da capital mineira.
A ameaça tarifária, que entra em vigor em 1º de agosto, assusta o setor produtivo. Na quinta-feira (10), o presidente Lula anunciou a criação de um comitê de empresários para acompanhar a questão, deixando as medidas diplomáticas a cargo do Itamaraty. No entanto, em conversas reservadas, empresários brasileiros ressaltam o isolamento do presidente, que, segundo eles, tem mantido pouco contato com o empresariado, diferentemente de mandatos anteriores.
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A postura diplomática de oposição aos Estados Unidos poderia gerar custos ainda maiores, alertam representantes do setor privado. Muitos sugerem que o próprio Lula e seu assessor internacional, Celso Amorim, não seriam as figuras ideais para conduzir as negociações. Há quem defenda que o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, teria capacidade de dialogar. Outra alternativa seria convocar um grande empresário, ex-político ou ex-diplomata de relevância.
Para Fábio Barbosa, presidente do conselho de administração da Natura Cosméticos S.A., “a hora é de avaliar bem nossos próximos movimentos. A tarifa só entra em vigor no dia 1º de agosto. Políticos, empresários e diplomatas podem ajudar a construir um caminho”. Ricardo Lacerda, fundador do BR Partners, avalia que a reação inicial de Lula foi “ponderada”, mas critica a tentativa de misturar “assuntos de eventuais abusos do STF com tarifas que prejudicam nossos interesses comerciais”. Rogelio Golfarb, sócio da Zag Work Consultoria, alerta para a dificuldade de avanço se as questões comerciais forem “contaminadas pelo viés político brasileiro”. Ele ressalta que “o caminho passa por um jogo de xadrez de diplomacia muito bem construído, no qual o Brasil não se mostre subserviente, mas ao mesmo tempo deixe portas abertas para a negociação”.
Horácio Lafer Piva, membro de conselhos como Klabin e Iedi, considera que os prejuízos já são “inevitáveis”, mesmo que a conversa se acalme. “Me parece tudo tão bizarro em forma e conteúdo, que somente resta manter alguma serenidade e dar alguns dias para avaliar custos financeiros e riscos políticos”, afirma.
A política, contudo, já se entrelaça ao debate. Trump, ao anunciar a sobretaxa, citou o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro em uma carta a Lula, que classificou a atitude como uma “afronta”. Apesar disso, Lula afirmou que a primeira tentativa será a negociação, mas que, se falhar, haverá reciprocidade. Cotado para 2026, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, busca se posicionar como um possível negociador, tendo abordado ministros do STF e o chefe da embaixada dos EUA no Brasil.
João Camargo, presidente do conselho do grupo Esfera Brasil, que reúne empresários, clama por responsabilidade e diálogo. “O momento exige diplomacia, firmeza e clareza. Precisamos buscar um acordo que proteja os interesses do Brasil sem comprometer a boa relação com os Estados Unidos”, declara. Alexandre Ostrowiecki, da Multilaser, sugere que “a melhor postura do governo seria buscar uma reaproximação com os Estados Unidos, reduzindo tarifas que prejudicam ambas as economias”.

