O município de Amarante, terra do poeta Antonio Francisco Da Costa e Silva – considerado o maior poeta telúrico do Piauí, é também conhecido por ser o berço da cultura do estado, com relevância para as ricas manifestações folclóricas que traduzem a essência e a alma do povo amarantino.
O saudoso e também pesquisador da Cultura Popular Piauiense, Noé Mendes, considerou o folclore de Amarante como um dos mais puros do Brasil, segundo ele, pela sua essência e originalidade, elementos que permitem que sua cultura seja referenciada em todo o Piauí.
Dentre as manifestações folclóricas que mantêm visivelmente definidas as expressões culturais do povo amarantino, quatro delas podem ser consideradas como parte indivisível da rica história do lugar, a exemplo do Bumba-Meu-Boi, o Cavalo Piancó, a Roda de São Benedito e o Pagode do Mimbó.
Bumba Meu Boi
O Boi de Amarante, atualmente com 35 integrantes, surgiu no município em 1935 e está desde 1940 sob o comando de Manoel Pereira da Silva, conhecido como Manoel Senhor. Os integrantes são identificados hierarquicamente como Caboclo Real, Vaqueiro, Alfere, Chico, Catirina, Maroca, dentre outros, que vão dançando ao som dos instrumentos maracá, tambor e palmas. Era uma das mais animadas festas da cidade. Numa tarde de final de semana se programava a morte do Boi, ocasião em que a multidão se aglomerava num curral improvisado. Cedo da noite, farta comida para os convidados e em seguida festa dançante com música ao vivo até o dia amanhecer. Registrado na memória do povo e nos arquivos históricos de nossa gente, os “BOIS” de Antônio Ribeiro (falecido), Paulo Pereira (falecido), popular Dinga (falecido), Pedro Gregório (falecido) e o da Veredinha. Esta tradição amarantina está sendo apresentada, até fora de época, pelos populares Manoel Senhor e Afonso Ti-ti-ti (Velho do Rio).
Cavalo Piancó
Um dos destaques do folclore piauiense é uma forma de coco que surgiu às margens do Rio Canindé, local da tradição do plantio nas vazantes. Não se sabe ao certo a data do surgimento e nem o autor desta dança popular genuinamente amarantina. Atribui-se que o Cavalo Piancó é originário da comunidade Veredinha. Nos arquivos dos grandes historiadores de Amarante, encontra-se registrado que nas noites enluaradas, quando se vigiavam as plantações, rapazes e moças, para afugentar o sono, entretinham-se com a brincadeira. Dançado aos pares, cavaleiros e damas em círculo, imitando o trote de um cavalo manco. Os cavaleiros trocam de damas e seguem o enredo dançando e cantando. O Cavalo Piancó é conhecido em vários lugares do território nacional e exterior. Divulgado nas grandes emissoras de rádio e televisão, nas importantes revistas e jornais. Já se apresentou em outros Estados. Participou há mais de 30 anos atrás de um festival de folclore do Norte e Nordeste do Brasil na Capital Maceió. Em 1982, o Grupo de Teatro “Nasi Castro apresentou-se em São Luís, na 4ª Mostra de Danças do Norte e Nordeste, no Teatro “Artur Azevedo”, com várias manifestações folclóricas, entre elas o “Cavalo Piancó”.
Roda de São Benedito
Novena, dança e cântico em homenagem ao Santo. Há décadas uma tradição religiosa em Amarante. Depois dos atos religiosos, muitos se organizam em roda para fazerem coreografia simples num ritmo bem marcado. São formadas duas fileiras de homens e mulheres, para dançar e cantar com acompanhamento de violas, em torno de um altar improvisado.
Pagode de Amarante
O Pagode de Amarante é uma cultura rotineira, exibida tanto na zona urbana quanto na rural. O pagode de Amarante é convidado a se apresentar em várias cidades da região, especialmente nos grandes encontros culturais de Teresina, ultimamente representado pelo Pagode do Mimbó. Esta cultura é originada do território africano, cantado e dançado por escravos que viviam em Amarante. Hoje, todos participam desta cultura milenar. Na realidade, o Pagode amarantino se destaca pela sua grandeza animadora e beleza coreográfica e de compasso encantador. como “Gonçalo Urubu”. Em 1959 e 1960, com participações de pessoas de Floriano, foi encenada a manifestação dos CONGOS, com grande aceitação. Em 1961, os irmãos Marcos e Gonçalo Pio, que haviam participado desta brincadeira, levaram-na à festa do Centenário da transferência da Sede da Freguesia e Vila de São Gonçalo, para Amarante, por solicitação do Padre Isaac José Vilarinho (hoje, Monsenhor), então vigário da cidade.
Em 2017, revitalizados pela Secretaria Municipal de Cultura, o Cavalo Piancó, o Bumba-meu-Boi e o Pagode estão entre as várias manifestações que estavam adormecidas. O público jovem de Amarante viu pela primeira vez o conjunto de manifestações folclóricas no I Festival Cultural, evento realizado de 1º a 4 de agosto pela Prefeitura Municipal.
Com o resgate das manifestações, o Bumba-Meu-Boi, voltou a se apresentar em eventos folclóricos em todo o estado com exibições recentes ao público em Floriano, Teresina e Amarante, recuperando seu valor como parte do cenário histórico-cultural do lugar.
Além das manifestações, há outras referências que, em 2017, levaram Amarante a entrar no roteiro estadual do turismo, como também ser incluído pelo Ministério do Turismo no Mapa do Turismo Nacional, a exemplo do Centro Histórico, fabricação da Cachaça Lira, Ecoparque, Escadaria, Quilombo Mimbó, dentre outros.
A cidade de Amarante, que também possui amplo acervo histórico-cultural na Biblioteca Municipal Nazi Castro, possui também museus com ampla distinção nos seus acervos. Dentre eles estão a ‘Casa de Cultura Odilon Nunes’, que foi criado para homenagear o poeta; o Museu Coisas da Terra, cujo acervo é composto de objetos seculares das famílias tradicionais da cidade; e o Museu do Divino, que traz uma grande variedade peças alusivas ao Espírito Santo e festa na época de Pentecostes.
O município de Amarante completou este ano 146 anos de emancipação política. Para chegar ao berço cultural do Piauí, a partir de Teresina, o trajeto deve iniciar via BR-316 e BR-343, saindo da capital em direção à região centro-sul do estado. A cidade fica localizada a 160 Km às margens do rio Parnaíba, vizinha a São Francisco do Maranhão.
Manifestações folclóricas de Amarante | Revitalização após resgate
Descrição das danças extraída do livro Amarante – Personalidades e Fatos Marcantes, do autor Bebeto Soares
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