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A morte de Hermeto Pascoal | Falência múltipla dos órgãos
Confirmação da morte aos 89 anos.
A cena musical brasileira e mundial se despede de um dos seus mais notáveis inovadores. A morte do multi-instrumentista Hermeto Pascoal aos 89 anos por falência múltipla de órgãos no Rio de Janeiro foi confirmada neste sábado (13). O “mago da música universal”, como era conhecido, faleceu às 20h22 no Hospital Samaritano Barra, na Zona Sudoeste da capital fluminense. A notícia foi divulgada primeiramente nas redes sociais do músico, ressaltando que, no momento de sua passagem, seu grupo estava no palco, um cenário que ele certamente aprovaria.
A Carreira singular de Hermeto Pascoal
Hermeto Pascoal, alagoano de nascimento, consolidou uma carreira singular que o levou a ser considerado por Miles Davis como “o músico mais impressionante do mundo”. Sua genialidade se manifestava na capacidade de extrair sonoridades de qualquer objeto, transformando panelas, chaleiras, regadores, brinquedos infantis e até animais em instrumentos musicais para composições rítmicas, melódicas e harmônicas complexas. Autodidata, iniciou na música aos 10 anos aprendendo acordeão com seu irmão, mas só começou a escrever partituras após os 41. Residente de Bangu, na Zona Oeste carioca, ele provou que a idade não limitava sua paixão pela criação.
Trajetória musical e influências
A trajetória prolífica de Hermeto Pascoal é marcada por constante experimentação. Aos 14 anos, já se apresentava em rádios de Recife com seu irmão José Neto. Aos 20, mudou-se para o Rio de Janeiro e, no início dos anos 1960, estabeleceu-se em São Paulo, onde sua passagem pela boate Stardust o conectou a figuras como Heraldo do Monte, com quem integraria o Quarteto Novo. Este grupo acompanhou Geraldo Vandré e fez história no Festival de 1967 com Edu Lobo e Marília Medalha na canção “Ponteio”. Posteriormente, formou o Brazilian Octopus com Lanny Gordin. Sua fama internacional ganhou impulso quando Airto Moreira e Flora Purim o levaram aos Estados Unidos, onde gravou e colaborou com Miles Davis.
Hermeto Contra os Rótulos
Ao longo de sua carreira, Hermeto foi um crítico dos rótulos. “Nunca fiz um grupo de bossa nova ou de forró. Cansei de tocar em festivais de jazz no exterior, mas nunca vou tocar apenas jazz. Vou tocar frevo, baião, música clássica. Então eu chamo isso de música universal”, afirmou ao GLOBO em seu aniversário de 80 anos, definindo o único rótulo que aceitava. Reconhecido por três Grammys Latinos, em 2023, Hermeto recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela prestigiosa Juilliard, em Nova York, cujas músicas agora fazem parte do currículo da escola. Títulos similares foram concedidos pelas universidades federais da Paraíba e de Alagoas, seu estado natal.
Reconhecimentos e honrarias
Sua última gravação com inéditas, “Pra você, Ilza”, lançada em 2024, foi uma homenagem à mãe de seus seis filhos, Ilza Souza Silva, sua companheira de 1954 a 2000. O trabalho foi eleito um dos melhores álbuns brasileiros de 2024 pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). No mesmo ano, sua primeira biografia, “Quebra tudo! — A arte livre de Hermeto Pascoal”, escrita por Vitor Nuzzi, foi lançada.
Últimos trabalhos e legado
Apesar da idade, o fôlego musical de Hermeto era notável. Entre o final de julho e meados de agosto, realizou uma série de nove shows pela Europa. Sua última apresentação em solo brasileiro, dias antes de completar 89 anos, transformou o Circo Voador, na Lapa, em uma festa de aniversário. Na ocasião, ele expressou ao GLOBO a vitalidade que a música representava: “Quando subo no palco, não tenho idade. O corpo pode ser de 88 anos, mas a alma vira menino de novo. A música é a vida. Se estou respirando, já estou fazendo som. Quando tomo água, também. Até o silêncio tem ritmo. Para mim, música é brincadeira de criança: tudo junto, sem fronteira”. Hermeto seria uma das atrações do Festival Acessa BH, em Belo Horizonte, neste sábado (13), mas sua participação foi cancelada “por motivos de saúde” dois dias antes.
Vitalidade musical do multi-instrumentista Hermeto Pascoal até os últimos dias
O bruxo da música instrumental
A partida do bruxo da música instrumental, que deixa seis filhos, 13 netos e dez bisnetos, não encerra sua “música universal”. Conforme a nota divulgada pela família, “a música universal segue viva”, um eco da filosofia de Hermeto, para quem “a idade não existe”, apenas “o dia a dia” e a felicidade compartilhada.
Com informações do O Globo
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