Erdogan e Kilicdaroglu em último esforço para reunir eleitores antes do segundo turno

Uma primeira rodada de votação em 14 de maio mostrou Erdogan com vantagem sobre Kemal Kilicdaroglu, da oposição, e o Partido AK de Erdogan e seus aliados garantiram a maioria parlamentar na votação inicial.

Erdogan prestou homenagem a seu antecessor conservador com uma visita ao mausoléu de Adnan Menderes, em Istambul, no sábado, para reunir sua base conservadora.

Menderes foi julgado e enforcado um ano depois que os militares deram um golpe em 1960 para colocar a Turquia de volta em um curso mais secular. Erdogan sobreviveu a uma tentativa de golpe contra seu próprio governo de raízes islâmicas em 2016.

“A era dos golpes e juntas acabou”, declarou o homem de 69 anos após depositar uma coroa de flores no túmulo de seu mentor.

“Mais uma vez, convido vocês a irem às urnas. Amanhã é um dia especial para todos nós.”

Erdogan disse a seus seguidores em janeiro que queria continuar a luta de Menderes pelos direitos religiosos e causas nacionalistas na república oficialmente secular, mas predominantemente muçulmana, de 85 milhões de pessoas.

Erdogan venceu Kilicdaroglu por quase cinco pontos percentuais no primeiro turno de votação.

Mas o fracasso de Erdogan em superar o limite de 50 por cento preparou o primeiro segundo turno da Turquia no domingo e destacou o declínio gradual de seu apoio. Erdogan, que liderou o país por 20 anos, ainda é visto como o favorito. Pesquisas de opinião recentes sugerem uma disputa acirrada.

Resul Serdar, da Al Jazeera, reportando de Ancara, disse que a mensagem de Erdogan não mudou significativamente desde o primeiro turno da eleição.

“Ele estava fazendo uma promessa de fazer do próximo século o século da Turquia. Ele disse aos eleitores que daria continuidade ao megaprojeto e fortaleceria a indústria de defesa no país. Ele estava prometendo uma Turquia mais poderosa e assertiva na arena internacional”, disse ele.

Kilicdaroglu, que lidera uma coalizão de oposição de conservadores, partidos seculares e nacionalistas, encerrou sua campanha com um discurso no “Family Support Insurance Meeting” na capital, Ancara.

Kilicdaroglu concentrou-se em questões mais imediatas enquanto tenta recuperar-se. Em uma tentativa de conquistar os eleitores nacionalistas, o adversário da oposição prometeu expulsar os refugiados sírios.

“Para atrair o voto nacionalista, Kilicdaroglu concentrou-se nos sentimentos anti-refugiados no país e prometeu enviar milhões de refugiados sírios, afegãos e paquistaneses de volta a seus países. Por enquanto, a oposição está tentando apelar para os nacionalistas”, disse Serdar, da Al Jazeera.

Na sexta-feira, Kilicdaroglu usou uma entrevista na TV tarde da noite para acusar o governo de Erdogan de bloquear injustamente suas mensagens de texto em massa para os eleitores.

“Eles têm medo de nós”, disse o ex-funcionário público de 74 anos.

Ele repetiu a mesma afirmação no sábado.

“Não posso enviar uma mensagem de texto aos repórteres para anunciar nosso programa de campanha. As empresas de telecomunicações estão me impedindo de enviar mensagens de texto para jornalistas. Estou em um apagão total. Não podemos nem realizar uma eleição na Turquia. Este homem [Erdogan] é um covarde, ele é um covarde”, disse.

Observadores disseram que os votos da Turquia estão livres de interferência nos dias de eleição – mas injustos porque as probabilidades estão contra a oposição antecipadamente.

“Foram eleições competitivas, mas ainda limitadas”, disse o chefe da missão de observação eleitoral da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), Michael Georg Link, após o primeiro turno.

“A criminalização de algumas forças políticas … impediu o pleno pluralismo político e impediu os direitos dos indivíduos de concorrer às eleições”, disse Link.

A consolidação do poder de Erdogan incluiu uma monopolização quase completa da mídia pelo governo e seus aliados empresariais.

Os Repórteres Sem Fronteiras (RSF) estimaram que Erdogan recebeu 60 vezes mais tempo de antena na emissora estatal TRT Haber do que Kilicdaroglu em abril.

“Eles tomaram conta de todas as instituições”, disse Kilicdaroglu em entrevista à televisão.

Muitas questões transformaram os eleitores a favor ou contra Erdogan: enquanto sua primeira década no poder foi marcada por forte crescimento econômico e relações calorosas com as potências ocidentais, a segunda começou com um escândalo de corrupção e logo se transformou em uma repressão política e anos de turbulência econômica que apagaram muitos dos primeiros ganhos.

Outra questão que ocupou o centro das atenções na preparação para as eleições foi o estado da economia, o crescente alarme sobre o destino da lira sitiada da Turquia e a estabilidade de seus bancos.

Erdogan forçou o banco central a seguir sua teoria não convencional de que taxas de juros mais baixas reduzem a inflação, mas a taxa de inflação anual da Turquia atingiu 85% no ano passado, enquanto a lira entrou em uma breve queda livre.

Os economistas acham que o governo de Erdogan precisará reverter o curso e aumentar drasticamente as taxas ou parar de apoiar a lira se quiser evitar uma crise total após a votação.