Last updated on 5 de julho de 2025
Amarante realizou nesta segunda-feira (30) a primeira Conferência Municipal da Igualdade Racial, um evento fundamental para a promoção do diálogo e a construção de políticas públicas voltadas à reparação e à justiça social na região. A iniciativa, que aconteceu na Câmara Municipal de Vereadores, reuniu autoridades e a sociedade civil para debater o racismo estrutural e as desigualdades que afetam a população negra, quilombola e os povos de terreiro.
A Superintendente de Promoção da Igualdade Racial e Povos Originários do Governo do Estado do Piauí, Assunção Aguiar, enfatizou em entrevista ao Somos Notícia que esta conferência é um marco, pois “o município se atentou para uma realidade que tem sido muito persistente, que é o racismo, a desigualdade, a situação de precariedade”. Ela acrescentou que a proposta da conferência é “refletir sobre o que está posto até aqui e o que nós podemos construir para o futuro”, abrangendo áreas como saúde, educação e meio ambiente.
O prefeito de Amarante, Adriano Da Guia, falou em vídeo ao público presente. Ele expressou seu orgulho em defender a causa da igualdade racial, afirmando: “Como homem negro e professor, tenho orgulho de defender essa causa. E como prefeito da nossa querida cidade de Amarante, tenho a honra e o dever de lutar por políticas públicas para a melhor qualidade de vida de todo nosso povo.” O gestor celebrou a criação de uma coordenação e de um conselho de igualdade racial no município, avanços considerados importantes no âmbito regional.
Jailton da Silva, Secretário de Gabinete, também reforçou o caráter histórico do mandato de Adriano Da Guia, sendo o primeiro prefeito negro de Amarante, e o compromisso da gestão em promover a igualdade. O secretário destacou a importância de tal avanço em um contexto onde ainda se luta contra a discriminação, ressaltando que, em sua opinião, “não existe essa questão de desigualdade. Todos nós somos iguais”.
Luan Brandão, Secretário Municipal de Assistência Social, sublinhou que não é possível falar de justiça social, combate à pobreza e inclusão sem enfrentar diretamente o racismo estrutural. “O racismo mata, destrói, nega oportunidades e silencia vozes”, declarou ele. Luan disse ainda que vê a conferência como um espaço vital para a escuta e o fortalecimento de políticas públicas, reiterando o apoio da Assistência Social ao conselho de promoção da igualdade racial para fazer de Amarante “um território antirracista, mais justo e igual para todas as pessoas”. O secretário ainda acrescentou que o papel do poder público é “dar visibilidade, garantir direitos e promover equidade”.
A presidente do Conselho Municipal de Promoção e Igualdade Racial, Nilda Soares, falou em entrevista ao site sobre sua satisfação em coordenar o evento, que representa um “movimento que a gente já vem fazendo há muito tempo”. Para ela, a conferência é uma “oportunidade que a gente consegue trazer mais políticas públicas e direcionar para quem realmente precisa”. Ela ressaltou ainda dizendo o seguinte: “O movimento negro é um movimento crescente, a gente precisa disso, precisa ter respeito, precisa ter unidade e a reparação”.
Nilda Soares agradeceu ao prefeito Professor Adriano pela visibilidade, destacando que a coordenação de promoção da igualdade racial só existe em dois lugares no estado, e Amarante é um deles. Ela vê a conferência como um “grande passo” e antecipou que o prefeito de Amarante será homenageado no evento estadual, com a previsão da vinda da Ministra da Igualdade Racial ao Piauí.
A programação da conferência incluiu um acolhimento com a religião de matriz africana, uma apresentação do Grupo Ginga de Amarante com a capoeira, uma mesa com autoridades locais e uma palestra central. O tema principal, “Igualdade e democracia: Reparação e justiça social em Amarante-PI”, norteará os debates e grupos de trabalho, buscando soluções efetivas para a promoção da igualdade racial. Uma apresentação cultural da Tenda Espírita de São Jorge, representante do Quilombo Mimbó, também confirmou a valorização das tradições e espiritualidade locais.
Para a superintendente Assunção Aguiar, a população tem um papel crucial na conscientização. “Nós temos que nos conscientizar de que a gente vive num país racista”, afirmou ao Somos Notícia. Ela destacou como o racismo se manifesta no dia a dia, muitas vezes em brincadeiras ou no compartilhamento de figurinhas que ridicularizam pessoas negras, travestis e mulheres em situação de vulnerabilidade. “É fundamental que a sociedade reflita sobre essa postura e não compactue com o racismo, adotando uma nova postura que a gente precisa adotar”, finalizou.
No âmbito estadual, Assunção Aguiar destacou avanços significativos no Piauí, como a titulação de mais de 40 comunidades quilombolas, tornando o Instituto de Terras do Piauí (Interpi) uma referência nacional. Na educação, há a primeira escola quilombola em Regeneração, e, segundo ela, a meta é ter quatro escolas quilombolas e quatro indígenas até o final do mandato, com uma indígena já funcionando em Teresina.
A Superintendência também atua no enfrentamento ao racismo institucional, tendo capacitado 70% das secretarias, e promove iniciativas como o “Meu Terreiro na Praça” e o “Meu Café com Fé”, que visam desmistificar religiões de matriz africana e aproximar o diálogo inter-religioso para combater a ignorância.
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Fotos: Leomar Duarte | Soimos Notícia
