No relato público mais detalhado já feito por uma autoridade dos EUA, o diretor da CIA fez uma avaliação mordaz na quinta-feira sobre os danos causados ao presidente Vladimir V. Putin da Rússia pelo motim do grupo mercenário Wagner, dizendo que a rebelião reavivou questões sobre seu julgamento e distanciamento dos eventos.
Falando no Fórum de Segurança de Aspen, uma conferência anual de segurança nacional, William J. Burns, diretor da CIA, disse que durante grande parte das 36 horas da rebelião no mês passado, os serviços de segurança russos, os militares e os tomadores de decisão “pareciam à deriva”.
“Para muitos russos assistindo a isso, acostumados com a imagem de Putin como o árbitro da ordem, a pergunta era ‘O imperador está sem roupas?'”, disse Burns, acrescentando: “Ou pelo menos ‘Por que está demorando tanto para ele se vestir?'”
Os comentários de Burns sobre a paralisia do Kremlin durante o levante realizado por Yevgeny V. Prigozhin e seu grupo mercenário basearam-se em comentários do dia anterior de seu colega britânico, Richard Moore, chefe do MI6, que disse que a rebelião mostrava rachaduras no governo de Putin.
Burns disse que enquanto Prigozhin estava inventando algumas das etapas da rebelião “à medida que avançava”, sua crítica à liderança militar russa, que ele fez em uma série de declarações cada vez mais combativas ao longo de meses, estava “escondida à vista de todos”.
Prigozhin também criticou duramente o argumento do Kremlin para a guerra contra a Ucrânia. Burns disse que o canal Telegram, onde Prigozhin postou um vídeo desafiando o principal argumento da Rússia para invadir a Ucrânia, foi assistido por um terço da população russa.
“Aquele vídeo foi a acusação mais contundente da justificativa de Putin para a guerra, da condução da guerra, da corrupção no cerne do regime de Putin que ouvi de um russo ou não russo”, disse Burns.
O Sr. Burns confirmou que os Estados Unidos tinham algum aviso de que o levante poderia ocorrer. Ele previu que Putin tentaria separar as forças de Wagner de Prigozhin para preservar as proezas de combate do grupo mercenário, que tem sido importante para o esforço de guerra da Rússia.
Desde a rebelião e o acordo que a encerrou, Prigozhin esteve em Minsk, na Bielo-Rússia, mas também passou algum tempo na Rússia, disse Burns.
Ele disse que ficaria surpreso se Prigozhin finalmente “escapasse de mais retaliações”.
“O que estamos vendo é uma dança muito complicada entre Prigozhin e Putin”, disse Burns. “Acho que Putin é alguém que geralmente pensa que a vingança é um prato que se come frio, então ele vai tentar resolver a situação na medida do possível.”
Burns, um ex-embaixador dos Estados Unidos na Rússia que serviu em Moscou quando o presidente russo consolidou o poder há quase duas décadas, acrescentou que o líder russo é “o último apóstolo do retorno”.
E, sugeriu Burns, não seria apenas Prigozhin que enfrentaria as repercussões.
Autoridades americanas disseram em particular que um general russo sênior, Sergei V. Surovikin, tinha conhecimento prévio dos planos de Prigozhin e pode ter apoiado a rebelião.
Questionado se o general Surovikin estava em liberdade ou detido, Burns disse: “Não acho que ele desfrute de muita liberdade agora”.
Com informações do site The New York Times
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