Desde o final de 2022, o Ministério da Saúde recomenda que as vacinas da AstraZeneca e da Janssen (que usam o vetor viral) não sejam mais usadas como dose de reforço contra a covid-19 na população com menos de 40 anos. O motivo para isso é um risco maior de trombose, principalmente em mulheres, e outros efeitos colaterais que, apesar de raros, foram notificados após a aplicação.
Segundo o documento divulgado pela Sociedade Brasileira de Imunização, “do total de 40 casos prováveis e confirmados de Síndrome de Trombose com Trombocitopenia distribuídos por dose de vacina para covid-19, notificados no e-SUS Notifica Brasil (excluindo-se São Paulo), 34 foram atribuídos à vacina da AstraZeneca”. Esses incidentes acontecerem entre janeiro de 2021 e setembro de 2022, cerca de duas semanas após a vacinação dos indivíduos.
Uso da vacina
A produção pela Fiocruz, acordada em 2020 para nacionalizar 100% o imunizante, foi interrompida. Porém, até janeiro de 2022, 115,6 milhões de pessoas já haviam sido imunizadas com essas doses.
A produção e uso foram interrompidos agora justamente em suas doses de reforço. O infectologista Julio Croda, especialista da Fiocruz, professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e da Faculdade de Saúde Pública de Yale, nos Estados Unidos, explicou à RFI Brasil que o custo-benefício fez com que a utilização da vacina no esquema inicial compensasse, porque o risco de adquirir trombose em decorrência da covid-19 é bem maior do que por causa do imunizante.
Porém, agora que há outras opções de vacina, é melhor evitá-la.
No contexto de uma população jovem, com elevada cobertura vacinal, os efeitos raros devem ser levados em conta. Além disso, outros imunizantes não apresentam esse risco e o Ministério da Saúde, utilizando dados de outros países e de seu próprio sistema de farmacovigilância, decidiu fazer uma mudança importante, deixando de recomendar a vacina como dose de reforço em menores de 40 anos. Então, preferencialmente, essas pessoas devem usar outro imunizante.
Julio Croda, em entrevista à RFI Brasil
Efeitos colaterais
- Ao longo da pandemia, estudos constataram que o imunizante, à base de vetores virais, estava relacionado com a formação de coágulos, principalmente em pacientes mais jovens.
- No Reino Unido, ele deixou de ser usado em pessoas de menos de 30 anos em abril de 2021.
- Esse também foi o caso da França e dos Estados Unidos, que nunca chegou a autorizá-lo e doou dois milhões de doses ao Brasil.
- Porém, o infectologista avisa que quem tomou a vacina nas primeiras doses não precisa se preocupar com efeitos colaterais tardios; os efeitos, raros, se manifestam nos 14 primeiros dias após a aplicação e o que se mantém depois é a proteção e imunidade.
- Segundo Croda, “é importante deixar claro que, em um momento que você tem uma população que não está imunizada, qualquer vacina tem um impacto substancial, principalmente nas hospitalizações e óbitos”.
Resposta da Astrazeneca
Em resposta à RFI Brasil sobre os riscos de trombose associados à vacina, a AstraZeneca reforçou que o imunizante “apresenta um perfil de segurança favorável”. A organização destacou que os benefícios da vacinação superam quaisquer outros riscos.
A AstraZeneca afirmou que, com base nas análises apresentadas, não é possível estabelecer uma relação dos casos de problemas cardíacos à vacina, ou estender essas conclusões.
A companhia destaca que também é “difícil estender qualquer conclusão para o público em geral, porque a vacina foi usada apenas durante um curto período e em uma população selecionada”.
Segundo a empresa farmacêutica, o imunizante ajudou a salvar mais de 6 milhões de vida no primeiro ano de vacinação, entre dezembro de 2021 e dezembro de 2022.
Com informações da RFI Brasil
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