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Tarifas de Trump e o agronegócio brasileiro: oportunidades e desafios, segundo ex-ministro.

O setor do agronegócio brasileiro avalia que as tarifas de Donald Trump podem abrir oportunidades, mas o otimismo deve ser relativizado, conforme a análise do professor emérito da Fundação Getúlio Vargas e ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues. Em entrevista à Jovem Pan News, o ex-ministro ponderou sobre os possíveis impactos do chamado “tarifaço” no cenário comercial global e suas implicações para o Brasil.

Brasil: tarifaços de Donald Trump e o agronegócio

Agronegócio Brasileiro: Impacto do Tarifaço de Trump
Agronegócio Brasileiro: Impacto do Tarifaço de Trump
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Rodrigues destacou que, embora uma tarifa seja sempre negativa em comparação com a ausência dela, o fato de os concorrentes do Brasil, como Austrália e Argentina, enfrentarem as mesmas tarifas significa que, do ponto de vista da concorrência relativa, o país não perde oportunidades.

Um ponto crucial da análise reside na reconfiguração das alianças entre países e grupos de países impulsionada pelas políticas de Trump. O ex-ministro apontou que essa nova geopolítica e comercial pode gerar oportunidades para o Brasil se posicionar estrategicamente. Um exemplo citado foi o possível interesse da União Europeia em retomar as negociações de acordo com o Mercosul, dada a imposição de tarifas de 20% pelos Estados Unidos.

Apesar do otimismo cauteloso, Rodrigues ressaltou que nem todos os setores do agronegócio brasileiro serão igualmente beneficiados. Ele alertou para possíveis prejuízos absolutos em produtos nos quais o Brasil não tem concorrência, como o suco de laranja destinado aos Estados Unidos.

Questionado sobre se o “tarifaço” impôs um novo estresse à ordem comercial global ou abriu brechas, o ex-ministro reconheceu que há oportunidades, mas que elas exigem habilidade comercial e competência negocial. Ele lembrou que, durante o primeiro governo Trump, as tarifas impostas à China levaram o país asiático a buscar outros mercados, resultando em um crescimento espetacular das exportações brasileiras para a China, majoritariamente de commodities. No entanto, Rodrigues vislumbra que, além da China, outros países asiáticos podem se interessar pelo produtor brasileiro, inclusive com produtos de maior valor agregado, como carnes, bebidas e sucos.

Sobre a crítica de que o presidente americano não compreenderia as mudanças no cenário global, Rodrigues mencionou que há um rearranjo global em curso, com perda de protagonismo de organizações como a OMC e a ONU. Ele observou que Trump está cumprindo suas promessas de campanha com o lema “América First”, o que pode levar a um reordenamento de preços nos Estados Unidos e, consequentemente, no mundo.

Em relação à possibilidade de o Brasil recorrer à OMC contra as tarifas, o ex-ministro ponderou que, embora a porcentagem imposta ao Brasil (10%) seja menor em comparação com outros países (25% a 60%), recorrer não faria mal. Contudo, ele acredita que a OMC perdeu protagonismo e que haverá uma grande quantidade de reclamações, dificultando soluções rápidas. Rodrigues mencionou que o parlamento brasileiro aprovou uma regra de reciprocidade que permite negociar à margem da OMC, sugerindo uma estratégia de buscar negociações bilaterais com paciência e habilidade, mantendo a possibilidade de recurso à OMC como uma opção.

Em uma análise mais ampla do agronegócio, o ex-ministro destacou que, independentemente dos desdobramentos comerciais e geopolíticos, existem desafios globais como segurança alimentar, transição energética, mudanças climáticas e desigualdade social que demandam soluções. Ele se mostrou convicto de que o agro tropical, especialmente o do Brasil, tem um papel fundamental a desempenhar na solução desses “modernos cavaleiros do apocalipse”, dada sua capacidade de aumentar a produção de forma sustentável. Rodrigues ressaltou o desenvolvimento de tecnologia tropical única e sustentável no Brasil nos últimos 30 anos, exemplificando com o crescimento da área plantada com grãos (105%) e da produção (440%). Ele enfatizou que o Brasil é o único país que realiza duas e até três safras na mesma área no mesmo ano, demonstrando a sustentabilidade da atividade produtiva.

Diante da proximidade da COP 30, o ex-ministro defendeu que o Brasil deve apresentar ao mundo sua capacidade técnica de produzir sustentavelmente, mostrando modelos tropicais que podem contribuir para a alimentação e energia global, criando assim um espaço maior para o país no agronegócio global.

Em suma, a análise do ex-ministro Roberto Rodrigues aponta para um cenário complexo, onde o ‘tarifaço’ de Trump pode gerar tanto oportunidades quanto desafios para o agronegócio brasileiro. A chave para o sucesso reside na habilidade de negociação, na busca por novas alianças comerciais e na valorização da produção sustentável, aproveitando o potencial do agro tropical brasileiro no contexto global.

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